Um sonho significante e o significado oculto

Sharing is caring!

*JÚLIO CÉSAR DE LIMA PRATES

Eu estive no mercado. Comprei minhas frutas e vim para casa. Bastante impressionado com a tragédia que se abate em nosso Estado. Recebo muitos vídeos, muitos bem interessantes, alguns emotivos, outros eivados de emoções.

Meu pai morreu em 1994 e minha mãe morreu em 2003. Meu pai nunca gostou de mim, razões óbvias, meu pai tinha aversão à esquerda e não me aceitava de jeito nenhum. Eu, por ser contra a ditadura militar, sempre atrai hostilizações abertas de meu próprio pai. Tentei amá-lo, mas nunca deu, sempre tivemos uma rixa histórica, até que aprendi a viver sem ele, buscando pessoas com as quais tinha uma certa identidade.

Minha mãe, a rigor, essa sempre me pareceu muito simpática a esquerda, entendia a vida de Ernesto Guevara, não criticava Fidel Castro. Minha mãe sempre me criou envolto de suas histórias, histórias longas e demoradas e ela mesclava as injustiças que fizeram com Jesus Cristo e sempre me apresentada as perseguições dos romanos aos cristãos como algo grandioso, dignas de histórias para serem ensinadas a uma criança. E assim que fui sendo criado.

Meus pais nunca se deram e viviam de pontas. Criei-me num pólo de conflitos. Nunca entendi porque eles nunca se deram e nunca quiseram se separar. Acho que morreram se odiando. Não foi nada agradável minha vida em companhia de meus pais.

Nunca sonhei com meus pais juntos.

Nunca. Nunca, exceto hoje.

Hoje, comi minhas frutas, liguei um site da nova democracia em defesa dos palestinos e fiquei assistindo ao vídeo. Sem querer, peguei no sono e no sono veio um sonho.

Foi o meu sonho mais estranho e mais incompreensível de toda minha vida. Eu entrei numa casa e estavam meus pais, sorrindo amistosamente, como nunca os vi em vida.

Eles estavam deitados, era um acampamento, como os palestinos em Gaza, só o ambiente era de afeto e o amor transcendia e fazia tudo diferente da realidade massante de Gaza. E qual minha surpresa, pois no meio  do sonho, dentre eles, está a Nina, feliz, brincando e correndo envolta (aqui um adjetivo).

Acordei e fiquei pensando longamente no meu sonho. É um tanto estranho e deverá ter algum significado. Mas não me é fácil decifrar tamanhas incógnitas, especialmente pelos pruridos e tantas incongruências e contradições. E mesmo porque Nina só nasceu em 2010, quando ambos já eram falecidos.

Li muito Freud sobre interpretações dos sonhos e nunca fui de perfilar no exoterismo. Embora eu tinha leitura ocultista, admito minha ignorância, pois até hoje sequer consigo acreditar que tenhamos alma e espírito. Por mais que eu não queira, esse sonho de hoje foi muito surreal, foi preocupante, assombroso e misterioso. Algum sentido, certamente terá. Mas, bloqueado para viagens astrais, fico apenas com o perfil das imagens do sonho. Boas imagens, por alguma razão minhas ondas REM foram bombardeadas de imagens do inconsciente, onde certamente adormecem meus pais e a NINA, embora os dois sejam mortos e ela recém iniciando a vida.

Decifrar sonhos nunca foi uma arte fácil, por isso, prefiro apenas escrever e deixar fluir o que tiver que fluir, enquanto eu sei bem o que devo fazer. Eu sempre escrevo sobre pessoas, elogio ou critico, nunca fui indiferente, embora muitas idiotices sequer eu perca tempo. Mas existe uma pessoa que captou minha alma profundamente, em essência. Ela captou toda a subjetividade. Mas vou ficando quieto e reservarei  toda minha gratidão.  Chegará a hora.

Tudo tem sua hora, inclusive o acerto de contas entre bandidos, existe uma estranha lógica na vida que ninguém pode evitar as conspirações cósmicas, pois é o próprio cosmo que ajeita tudo, mesmo que seja tudo desajeitado. Como eu não acredito em destino e nem em reencarnação, muito menos em alma e nem em espírito, prefiro esperar pela lógica absurda da subjetividade cosmológica do caos e da anarquia … e de alguma sinergia.


*Autor de 6 livros, jornalista nacional com registro no MtB nº 11.175, Registro Internacional de jornalista nº 908 225, Sociólogo e Advogado inscrito na SA OABRS sob nº 9980, Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura Textual. Também é Pós-graduado em Sociologia. 

 

Comentar no Facebook