No dia dos mortos, minha mãe é relembrada: é o amor pelo amor, infinito e universal

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No dia dos mortos, consegui com a ajuda da Gabizinha recuperar essa foto de minha mãe, falecida dia 19 de maio de 2003. Essa foto tem 80 anos, pois Jandira tinha 20 anos quando a tirou.

No meu livro O PAPEL DO JORNAL escrevi um capítulo sobre a morte de Jandira Prates, uma morte sem lógica, pois era uma pessoa boa, que sofreu muito com a doença que lhe tragou a vida aos 80 anos.

O irmão de minha mãe, o tio Castelhano, batizou sua filha mais velha com o nome de Jandira, que é casada com o Luiz Coronel.

Meu avô morava na Argentina e meu tio ganhou o apelido de Castelhano devido, ao chegar no Brasil, no reduto de Philippson, a primeira comunidade judaica do interior do Estado, hoje Itaara, ele não falava português.

Soube por intermédio de uma prima minha de TRÊS PASSOS, RS, que minha mãe chegou ao Brasil com 16 anos e também arrastava muito a língua para falar português.

Minha avó, Leodina Paiva Soares de Lima separou-se do meu avô e foi-se embora para a barra do Alto Uruguai, então TRÊS PASSOS. Lá constituiu nova família a teve vários filhos e filhas, sendo que tenho uma enormidade de primos espalhados pelo Estado afora e outros Estados, especialmente Paraná.

Minhas primas, que guardavam as cartas de minha mãe, acabaram me mostrando as fotos que JANDIRA mandava nas cartas. Só que minha mãe, altamente conservadora, nunca mais quis visitar sua própria mãe e morreu longe e sem falar com LEODINA. Eu acho, não sei, mas imagino que minha mãe nunca mais a perdoou. Eu sinto que tenho esse lado de minha mãe bem presente em minha vida.  Comigo também é uma vez só.

Meu avô, que na ARGENTINA era um dos coordenadores do censo estatal, veio embora para o Rincão dos Soares e criou sozinho os 3 filhos, dois homens e uma mulher, sendo que se dedicava a agricultura de subsistência e ao ofício de carpinteiro. Meu avô fazia carretas a noite, a luz da lua.

Minha mãe nunca me falava e nada dizia sobre sua mãe. Era um silêncio sepulcral. Seu pai era um herói. Para ela, tudo era seu pai, o melhor homem do mundo.

No livro do seu Bonotto, saudoso amigo, ele conta a história do Ranchão, que era o Déio Soares, que era primo de sangue de minha mãe. Deio furtava as fazendas e era caçado como um animal feroz. Não sei exatamente quantas pessoas o Déio matou, mas não foram poucas. Contava minha mãe que ele visitava nossa casa pelos fundos, quando era perseguido pelos bandos. Jandira arrumava-lhe comida, suco de limão e ele amava pegar minha irmã mais velha no colo, que tinha 2 para 3 anos, que era bem loirinha, muito mimosa. Minha mãe era fã do Ranchão. Faz sentido, eram primos e ele curtia nossa família.. O ódio de minha mãe contra as elites começou por ali. Ela ficou muito chocada quando soube que haviam matado Ranchão.

Gostem ou não, eu tenho o mesmo DNA de Ranchão e nada se deve estranhar de mim. Eu sei quem armou contra mim e sei quem foi sujo nas armações. Existem as armações toleráveis e outras intoleráveis. Eu sei quem armou as intoleráveis contra mim, sei tudo de tudo.

Minha mãe sempre foi uma boa mãe. Me criou no colo e sempre me contando histórias do império romano e dos cristãos. Quando eu 7 anos (foto) minha cabeça já era povoada de histórias.

Hoje é dia de relembrar nossos mortos. Eu tenho uma imensidão de parentes, amigos e amigas falecidos. Decidi estender meu reconhecimento a todos na pessoa de minha mãe, que faleceu em 2003.

Sei que meu DNA não é bom, mas isso é problema para os bandidos que armaram para destruir com minha vida. Eu sempre guardei comigo uma pequena faca que RANCHÃO usava para degolar os desafetos. Quando chove, o sangue aparece no fio da faca e eu guardo essa faca com muito orgulho, pois o RANCHÃO a doou a minha mãe e recomentou que se ela tivesse um filho, o presenteasse com aquela diminuta faca. A faca é perfeita para degolar. Viradinha, vai direto na jucular do bandido.

Minha mãe sempre foi uma pacifista. Me ensinou a nunca matar os passarinhos e nem mantê-los em gaiolas. Ela era um doce, mas sempre me ensinou que a gente precisa e deve se vingar daqueles que armam contra a gente. Eu aprendi bem essa lição. E sei bem a extensão de tudo que foi feito para destruir com minha vida e sei  o papel de cada um nessa destruição. E também dos que fingem ser mocinhos e no fundo são os piores bandidos, esses eu sei conhecê-los bem.

Minha mãe vive em mim. É tudo muito estranho, mas eu acordo e sinto que minha mãe está na sala da casa, parece que ela dorme comigo, no mesmo ambiente. Eu sempre ouvi histórias de quando a gente está prestes a morrer, que as pessoas amadas aproximam-se da gente. Mas eu não acho que vou morrer agora, mas acredito que minha mãe, sabedora da forma como eu vivo, solitário e sozinho, acampa ao meu redor. É a forma de amar dela. Ela sabe o que os porcos e abutres me fizeram e deve escolher por ficar ao meu redor. Ela é a única pessoa no mundo que me ama de Verdade, sem falsidades e com um amor sincero e único. Sem jogos e sem nada em troca. É o amor pelo amor. Por isso, é infinito e eterno.

Eu amo quem quer meu amor. Quem não quer, é só seguir a vida. Estou na vida de forma livre, para viver, matar ou morrer, exatamente como os palestinos. Se eu fosse palestino, certamente estaria no Hamas, com muito orgulho.

 

 

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