O projeto nacional de Estado-nação de Ciro e do PDT

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Júlio Prates

Terminei, hoje, pela manhã, a leitura do livro-projeto de Ciro Gomes e seus protocolos de boas-intenções.

Primeiro, creio os trabalhistas da região, que andam de frescuras pragmáticas com o PP, deveriam ler o livro; com certeza, descobrir-se-iam no partido errado. Os pressupostos teóricos e metodológicos do PDT, especialmente os delineados por Ciro, são avessos à ideologia do PP, suporte da ditadura militar e uma direita avessa a tudo o que o trabalhismo prega.

Segundo, o livro é lançado com 40 anos de atraso. As forças trabalhistas organizadas, capazes de dar sustentação a um projeto nacionalista de esquerda, em cima do Estado-nação, não existem mais no país. Foram engolidas pela hegemonia do PT, PSOL, PSTU e PCO, ala trotskista e também pelo PC do B, de raiz stalinista. Essas forças já viveram seu auge e – da capitulação da CUT e CGT, num primeiro momento, passando pelo aparelhamento leninista (embora transmitido como gramsciano, onde a correia substitui a hegemonia) o movimento sindical nacional foi engolido, devorado, tanto que não esboçou resistência nem mesmo ante o engolimento dos direitos trabalhistas e o naufrágio absoluto das conquistas da classe operária.

Embora Ciro tente converter o trabalhismo brizolista à segunda internacional socialista, que deu origem à social-democracia européia, duvido que algum bom analista político não vejo um erro histórico na proposta, pois nem a história anda para trás e nem os movimentos sociais são transportados mecanicamente.

É claro que o livro de Ciro é até bem-intencionado. Não nego isso. Mas de boas intenções o inferno está cheio.

O Estado-nação defendido por Ciro só seria possível pelo fechamento do Estado-nacional, sei lá, ao melhor estilo coreano do norte, se é que cabe algum paradigma. Em plena modernidade tecnológica, da telemática à robótica, mas especialmente pela telemática, seria quase um absurdo propor o consumo isolado, e nem estou falando na dependência tecnológica. Pelo projeto de Ciro teríamos que ter pólos nacionais de vanguarda, em termos de domínio científico e tecnológico, num mesmo nível do Japão, França e EUA, com seu vale do Silício na baía de San Francisco, Califórnia, abrigando gigantes mundiais como a Apple, o Google e o Facebook.

Já que o livro é um conjunto de mecanicismos, hello Althusser, creio que nem nos EUA caberia projeto de estado-nação trabalhista-cireano, dado a superação histórica e factual da proposição esboçada no livro de Ciro.

Um projeto, como o Ciro, ignora a ideologia que permeia as Forças Armadas, afinal nenhum projeto nacionalista como o proposto, seria, em tese, viável sem o suporte das FFAA. Por outro lado, não fica claro como ele propõe um refundação da classe operária nacional, nem como proporia redefinir o pacto social, político e econômico e nem as bases do imaginário futuro neo-sindicalismo nacional.

O operário nacional foi corroído pelo germe do neoliberalismo e pensa como investidor, isso parece que Ciro não nota.

Ademais, a configuração das forças sociais emergentes, estratificadas dentro das classes socais, porém ultra-classe, não é abordado, por exemplo, é o pensamento católico conversador e – em maior grau – o pensamento evangélico, que tem uma unidade de setor, à Pierre Bordieu, mas que transcende – pela metafísica- o simples pensamento de classe. Ninguém leva a sério, mas esse é o maior nó górdio para quem quiser entender o movimento dos estamentos, hoje, dentro das classes sociais nacionais.

Isso corroeu aquela leitura clássica marxista entre classes sociais/econômicas dominantes e dominadas.

Esse é um livro para iludir as bases nacionalistas acríticas. Serve como projeto político pessoal e tentará coptar os setores perdidos, órfãos do PT e seus satélites, troskos e neo-troskos, assim como o colorido stalinista de Manu e essa gurizada que marcha na paulista ostentando o símbolos da IV Internacional de 1938, ao lado dos órfãos de Enver Hoxha.


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