Jantar com celebridades e um mar de cocô. Artigo de Marcos Nogueira

Sharing is caring!

Para uma cidade com 150 mil habitantes, se tanto, Balneário Camboriú (SC) aparece no noticiário nacional com frequência demasiado alta.

Ora são os arranha-céus do balneário, eleito como ponto de veraneio dos ricaços de Santa Catarina e do Paraná. Na orla da cidade ficam seis dos dez prédios mais altos do Brasil.

O exagero fálico dos empreiteiros resultou na eliminação do sol na praia central da cidade. Aí Balneário virou notícia porque alargou a faixa de areia, empurrando o mar para além da sombra dos pirocões de concreto. Obra controversa, para dizer o mínimo.

A prefeitura diz que o caldo fecal nada tem a ver com sistema de esgoto ou com a obra de ampliação da praia. Põe a culpa nas chuvas que caem fortes na região.

Difícil engolir essa desculpa. Nuvem não defeca, só transporta o cocô de um lugar para outro. Os coliformes de Balneário estavam dando sopa quando a enxurrada os carregou para o mar.

Balneário Camboriú, com sua mania de querer ser Dubai, é um retrato do modelo de desenvolvimento abraçado pela elite que mandou erguer seus arranha-céus. Uma classe ignorante, predatória e jeca até o último fio de cabelo (aquele que Luciano Hang perdeu há tempos).

A abertura de uma filial do restaurante paulistano Paris 6 ilustra bem esse circo de caipiras ricos.

A comida é atração acessória da casa, cujo hype se deve à frequência de influenciadores, boleiros e subcelebridades. No cardápio, cada prato leva o nome de um famosinho: o penne da Gkay, o fettuccine do Pedro Scooby, o cheesecake da Jade Picon.

Paris 6 de São Paulo é um zoológico de ex-BBBs que serve, na sobremesa, um picolé atochado num petit gâteau.

Os sócios – entre eles, o papai do menino Neymar – certamente abastecerão a filial de Balneário com convidados egressos de algum reality show.

Jantar no templo da cafonice é programa numa cidade com um monte de gente rica e nada de prestável para se fazer. Nem a praia, imunda e desprovida de luz solar, é opção de lazer no balneário.

Balneário Camboriú tem uma orla que ostenta riqueza e, atrás dela, uma cidade pobre e feia de doer. Mais ou menos como todos os outros balneários do Brasil, só que com prédios bem mais altos.

O modelo de prosperidade implantado em Balneário vale só da porta de casa para dentro. Para que coleta de esgoto? Para que preocupações sociais e ambientais? O que importa é o barco, a Ferrari, o apê de mil metros no 51º andar e sua adega com vinhos de quatro dígitos.

Quem construiu Balneário Camboriú achava que poderia domar a natureza. É a mesma presunção ignorante que quem pensa que pode, impunemente, asfaltar a Amazônia ou transformar Angra dos Reis na Cancún milicana.

A natureza sempre devolve. A chuva e o oceano esfregam excremento no nariz de quem vai ao Paris 6 comer os churros da Vih Tube.

Comentar no Facebook