Quem é a opinião pública de Santiago e como se forma a opinião pública em Santiago?

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*JULIO CÉSAR DE LIMA PRATES

Em caso de existência ou não da assim chamada opinião pública, supletivamente, cabe refletir – admitindo a hipótese dela existir – como então essa se corporifica?

Sabemos que política é arte de mentir, de pensar uma coisa e de dizer outra. Ademais, os políticos falam várias linguagens embutidas numa só.

Por outro lado, o que mesmo vem a ser opinião pública? Longe de teorizações, de complicadas racionalizações, trata-se de um conceito polêmico. Isso quem diz é Paul A. Palmer, autor do clássico Public Opinion in Political Theory, editado pela Universidade de Harvard. Essa obra de Palmer é uma espécie de clássico na literatura inglesa, francesa e alemã acerca dos estudos de opinião pública.

Historicamente, os gregos e, mais tarde, os romanos, já se debatiam sobre o assunto e empregavam locuções semelhantes, falando em consenso populi. Na idade média, cunhou-se a máxima vox populi vox dei e Maquiavel, na obra DISCURSOS, comparou a voz do povo a voz de Deus.

O conceito de opinião pública como participação popular se liga a revolução francesa de 1789 e foi empregado, pela primeira vez, por Jean Jacques Rosseau.

Alessandre Pope, na Inglaterra, escreveu, ironizando: estranha a voz do povo e não é a voz de Deus.

Pierre Bordieu, na França, ampliou o debate e revelou que ele não é mesmo dócil. Disse e desdisse que opinião pública não existe. Complicado.

Fiz essa pequena introdução para mostrar aos leitores do blog e amigos que o debate sobre opinião pública não é recente e nem consensual.

Quem é a opinião pública de Santiago e como se forma a opinião pública em Santiago?

Eu diria que são vários os agentes e muitos os elementos que incidem na tal formação. Porém, tudo varia de acordo com as informações que as pessoas recebem, suas fontes de leituras, seus círculos sociais, suas condições econômicas e assim por diante.

É claro que um assunto de repercussão nacional e/ou estadual depende das fontes macro que abastecem nossas redes de informações. Aí entram os grandes jornais, rádios, canais de televisão e – mais recentemente – os blogs estaduais.

Tudo depende de enfoque, de um conjunto de simpatias e/ou antipatias, a forma como é transmitida a notícia, a eventual manipulação ou não informação, entre outros expedientes.


Eu diria que existem vários níveis de formação de opinião. O público evangélico, em Santiago em torno de 30% da população, recebe um tipo de influência, é educado a ver os fatos políticos de uma determinada forma. Usei o exemplo evangélico apenas a título ilustrativo, posto que o mesmo raciocínio vale para o comportamento das classes sociais, afinal o volume de informações se relaciona com as condições de acesso dessa mesma informação. Os segmentos D e E têm pouco ou quase nenhum nenhum acesso a banda larga, não lêem blogs, não lêem Veja, Isto É, Folha de São Paulo e raramente lêem a ZH digital. Portanto, seus limites de informações são parcos. E mesmo entre o público de maior acesso a informação, nossos segmentos A e B, existe uma pulverização na recepção da informação.

Aqui em nossa cidade é quase certo que a opinião das pessoas é formada de forma fragmentada. Nossas rádios locais, são pouco opinativas e pouco formadoras de opinião enquanto participação popular na criação, execução, controle e crítica das idéias políticas. Já nossos jornais, foram mais agressivos na formação da opinião pública local. E os blogs, então, esses – sim – são vivamente opinativos e realmente influem, para pior ou para melhor, mas influem.

Contudo, ouso acreditar que não existe uma opinião pública santiaguense formada, pronta e acabada. Existem segmentos de opinião pública em Santiago e esses são produtos das influências que recebem, leia-se: dos órgãos de imprensa escritos.

Rádio, em sua totalidade, é baboseira enquanto expressão de uma formação, criação, execução, controle e crítica das ideias políticas. Pessoalmente, não acredito na forma das emissoras enquanto tal finalidade.

Por fim, outros elementos precisam ser jogados no debate. Desde a sintonia de uma rádio até a tiragem de um jornal, pois isso reflete na maior fatia de público atingida pela ideologia que esse veículo reproduz. Pesa também, a credibilidade e a idoneidade do jornalista ou do radialista. É fácil inferir, que um jornal de grande penetração popular, com jornalistas bem formados, realmente forjam algum tipo de opinião.

O fenômeno mais recente da imprensa santiaguense e regional são os blogs e a redes sociais, particularmente o facebook e o instagran. E o sucesso deles, gostem ou não, está associado a emissão de opinião. Os fortementes opinativos, são os mais acessados. Ninguém gosta da abrir blogs para ler notícias coladas ou releases prontos.

Concluindo, vamos admitir que existe – sim – opinião pública, mas essa se expressa em vários níveis, não é uníssona, nem é a voz do povo e nem é a voz de Deus.

Ela é formada segmentada, recebe influências distintas e expressa-se por áreas de influências, com suas particularidades. Por fim: tudo depende do poder de fogo dos órgãos de imprensa, sua extensão, sua penetração e sua capacidade de “diálogo” com as massas.

Afinal: opinião pública existe ou não existe?

No próximo pleito que se avizinha, será decisivo o poder de comunicação de massas e aí entrará em pauta as redes sociais. Dados da Fundação Ulysses Guimarães, apresentados em painel local, revelam que 88% do internautas acessam blogs e redes sociais e isso aponta para a importância que esses terão no processo eleitoral.

O PP, embora invista em redes sociais, o facebook, por exemplo, acabou desprezando a blogosfera, o que, ao meu ver, constituiu-se num grave erro de avaliação. O facebook, embora comprove a tese de Castells e a sociedade em rede, não forma necessariamente um contigente crítico capaz de gerar um elemento formativo da opinião pública.

Um blog, embora com matéria mais longa, mais reflexiva, tende a formar mais opiniões.

As emissoras de rádios, concessões públicas, vão viver uma contradição, pois o direito opinativo dos seus radialistas agora assegurado, trará também – em seu bojo – uma explosão de ação de Pedido de Direito de Respostas, sem dúvidas, e isso confundirá a opinião pública local, somando a sua já duvidosa capacidade de formação de tal.

Os jornais, tendem a cristalizar mais suas opiniões, mas também pecam pela brevidade, pela expressão sintética, embora o Jornal Expresso Ilustrado siga fortemente fazendo escola com seu jornalismo dinâmico e interativo com matérias curtas e letras graúdas.

Contudo, a exemplo do que viu na eleição da URI, primeira eleição de Chico Gorski, serão os blogs quem ditarão o pique da campanha, sem a menor sombra de dúvidas. Ja na eleição de Michelle Noal não houve debate. São blogs opinativos e pessoais, não se sujeitam as regras de concessões públicas e na medida em que não são veículos de imprensa propriamente dito terão relativa autonomia (poderão discutir) quanto ao direito de resposta.

Esse processo eleitoral de 2022 colocará à prova – embora num contexto microcósmico – o tira-teima acerca do poder de fogo de cada segmento formador da opinião pública local.

É claro que as instâncias formadoras não se restrigem, nem de longe, ao monopólio da imprensa, posto que existem as instâncias morais invisíveis que tentarão influir no resultado. No campo religioso, os espíritas, católicos, evangélicos e umbandistas tendem a cristalizar suas opiniões junto ao seu público fiel. Não será diferente, com os CTGs, Escolas, Associações de Moradores, Sindicatos, Entidades empresariais, clubes recreativos, posições classistas organizadas do funcionalismo, militares, civis, comerciantes, pecuaristas e plantadores.

Embora a força interna dessas corporações ou espírito classista de cada um desses segmentos sociais, até no âmbito da família, o certo é que a força da imprensa e o jogo de argumentos aqui colocados, poderão ser decisivos. E quem tiver melhor capacidade de produção textual, linha argumentativa, capacidade de convencimento e maturidade intelectual, aliado a capacidade de provar o que se afirma, tende a atuar de forma mais cristalizada, não pasteurizando a informação, mas cristalizando uma tendência.

É o que veremos. E, finalmente, saberemos se a opinião pública de Santiago existe, se ela é fragmentada, se ela tem uma força majoritária ou até poderemos concluir que ela sequer existe, dado a força da fragmentação e incapacidade de formar hegemonia a ponto de virar e decidir o resultado de um pleito eleitoral.

*Sociólogo, Jornalista e Advogado. Pós-graduado em Produção Textual e Sociologia Rural.

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