Nossas escolhas e as lágrimas de um homem de honra

Lembro-me de quando tinha 12, 13, 14 e 15 anos. Sábados a tarde sempre ficava encerrado no meu quarto lendo os livros da biblioteca do Partido Comunista que me eram emprestados pelo senhor Aparício Gomes da Silveira.

Meu caráter foi formado lendo sobre a vida de Luiz Carlos Prestes, a quem eu vim conhecer, anos mais tarde, quando trabalhava na assessoria na Assembleia Legislativa.

Curiosamente, hoje sou bem amigo de uma neta dela (amigo de Facebook) e ela sabe o quanto me inspirei nele para formar meu caráter.

Com ele aprendi que nada é maior na vida de um homem que a honra e a palavra empenhada. Homens sem palavras, mentirosos, para mim perdem o valor.

Um dia contei para Nina sobre um senhor que houvera limpado nosso pátio. Ao chegar em casa Eliziane me disse que tinha ficado devendo 10 reais para o seu Otacílio, que morava na Vila Rica. Na mesma hora, tirei o carro da garagem  fui até a casa dele pagar os 10 reais que havíamos ficado lhe devendo.

Anos mais tarde, prestando serviço militar obrigatório, eu era líder do pelotão de Comando, onde tinham apenas 6 soldados. Havia uma manobra fora do quartel e houve um incidente com 3 soldados, Procópio, Sales e Norberto, que fugiram das manobras e foram fumar maconha. Presos, foram submetidos a uma série de torturas pelos oficiais. Esta caso está aberto até hoje.

Houve uma rebelião dos soldados e decidimos prender os oficiais dentro da barraca. Imagino que eram 6 deles. Eles tinham munição e nós só o FAL com a baioneta. Seria uma carnifinica, pois eu pedi para que furassem-nos em suas cabeças, para não sobreviverem e alertei que muitos de nós seriam mortos.

Dei minha palavra e foi assim. A carnificina só não aconteceu porque o então sargento Bibiano interveio num diálogo comigo, prometeram terminar a manobra, todos voltariam ao quartel e as torturas cessariam.

Na ordem de dia, o capitão comandante pede para os que estavam descontentes saíssem fora de forma.

Apenas eu sai.

Mas começava ali o meu martirio que até hoje não terminou.

Mas naquele momento, jovem, com 18 anos, percebi que eu tinha que manter a minha palavra empenhada, sem me importar com a omissão dos demais.

A lição maior que herdei das histórias de Luiz Carlos Prestes e dos honrados comunistas que me formaram, era que um homem tem que ter palavra e que homem sem palavra não tem valor.

Em meio a uma monumental derrota, certamente a maior de toda a minha vida, passei a tarde desse sábado desocupando móveis que não usei e queria doá-los. Sem notar que chovia, encerrado em casa, separei tudo com detalhes, desde cabides, até lamparinas, birots e roupeiros…Nunca vendo o que não quero, simplesmente dou para alguém que precisa.

Foram momentos de profunda dor, uma dor machucada, mas eu apenas pensava comigo que eu havia honrado minha palavra, quando disse que receberia e acolheria essa pessoa em minha casa. E durante um ano fui comprando tudo para interação num mesmo ambiente. Divisórias, cortinas, wi-fi, ícones, plaquinhas, birots, tudo, em suma, tudo para dar exemplo de que a palavra de um homem define sua honra.

Por instantes, não controlava minhas lágrimas, mas sei que a vida é de feita de pessoas que honram o que dizem e de pessoas sem compromisso com a verdade. Para essas, tudo tanto faz, quanto tanto fez.

Nas horas desse sábado, foram vários filmes em minha cabeça, vários, filmes e lágrimas. Mas nenhum espaço para arrependimento, apenas convicção de que a Verdade deve ser absoluta sempre.

Fiquei encerrado em casa, arrumei tudo, separei tudo, tudo com muita dor, talvez a pior dor de minha alma. Mas é o custo que pagam as pessoas que não mentem e que sustentam suas palavras.

Não me importa mais nada nessa vida, desde que minha honra seja inatacada. E minha honra se associa com minha palavra, com a palavra dada e com a palavra empenhada.

Sei bem como a gente vai morrendo quando se defronta com esses gestos que cortam mais que punhais de duas lâminas. E esses cortes fictos, espirituais, são os piores, pois esses nunca cicatrizam e os carregamos com nossos corpos para o rito final da vida.

Mas são nossas escolhas. E o espaço que separa a honra da não honra.

Uma alma sem essência ou um homem quase sem alma

Vivi, nos últimos tempos, as maiores dores de minha vida. Dores que, com certeza, vou arrastá-las comigo até minha morte, pois foi algo que eu nunca sonhei, nem de longe, e, em especial, tive um punhal cravado nas minhas costas com uma profundidade sem precedentes.

Continuo vivo. Mas morri em minha essência. Nunca mais serei o mesmo homem. Hoje por onde ando, arrasto as dores e os fragmentos da punhalada espiritual.

Sei que a vida é assim mesmo e cada um de nós colhe o que semeia. Eu, certamente, semeei péssimo fruto e a consequência natural é que eu pague por tudo.

Peço desculpas aos meus amigos, clientes, e as poucas pessoas próximas a mim. Sequer sei se conseguirei me recuperar disso tudo, talvez não, especialmente pela minha idade.

Os beluínos e seus belzebus  venceram e eu admito minha derrota, a pior de todas as derrotas de minha vida.

Ao longo de minha vida, somente eu sei isso, sempre enfrentei adversidades e sempre soube enfrentá-las com honradez e dignidade. Agora, pela primeira vez, admito que a ferida foi forte demais, foi muito profunda e sei que dela nunca mais me recuperarei enquanto for vivo.

Foi uma punhalada tecnicamente pensada, calculada, fruto de uma conjunção demoníaca.

Sempre escrevi sobre minha vida e esse escrito não é diferente. Por não ser falso, nunca mais conseguirei olhar  para os construtores e construtoras dessa punhalada que me manteve  vivo, mas tirou a essência de minha alma de dentro de mim. Ficaram pedaços, pedaços soltos, sem nexo, sem lógica, apenas para dar forma humana a um humano cuja alma foi tragada.

Seguirei meus dias, carregando minha cruz, ciente de que fui estúpido quando muitos amigos, muitos mesmos, me alertavam de um fato que eu me negava a enxergar. Hoje, reconheço que todos tinham razão e como tinham; e impressiono-me como minha própria cegueira.

Agora é tarde para para qualquer remendo e nada mais será estranho para quem foi objeto desse escárnio sem precedentes.

Hoje é o dia Mundial da Liberdade de Imprensa

Júlio César de Lima Prates, Jornalista, Registrado no Ministério do Trabalho do Brasil sob nº 11.175 de 03 de março de 2003 por decisão do Supremo Tribunal Federal. Editor Internacional com International Stander Number Book 908225, registrado no Ministério da Cultura do Brasil. Autor de 6 livros e mais de 10 mil textos de imprensa e 4 mil textos especializados.  O único Jornalista santiaguense com todas essas credenciais, e o mais perseguido e processado pelo Prefeito Tiago Gorski Lacerda, do PP de Santiago.  Fale com Júlio Prates  pelo whats 51 9617.9962.