As dimensões ocultas da vida e dos saberes, anatomia de um mergulho humano

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*JULIO CESAR DE LIMA PRATES

Entender as pessoas que se aproximam da gente não é tarefa fácil, pois cada pessoa esconde um sentimento, uma intenção, uma busca e esses sentimentos, essas buscas e essas intenções, nem sempre são claras e nem sempre são facilmente visualizáveis.

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Por tal razão, procuro sempre as mesmas pessoas, amigas de anos, em quem quem eu aprendi a confiar e a certificar-me de que nada ofereço a essas a ponto de me desejarem o mal ou me destruírem. Eu tenho as mais sólidas razões para não acreditar no ser humano e por isso, sempre, prefiro quem eu sequer conheço, sem espaço para aprofundamentos.

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Conheci a pior espécie humana, gente falsa, avessas ao mínimo de seriedade, inimigas da ética  e portadoras dos sentimentos mais anacrônicos existentes. Por descobrir tudo isso, prefiro viver só, esperando me mudar de onde moro para acolher um gatinho e um cachorrinho, animais os quais sempre gostei e que sinto falta das companhias. Perdi tudo em termos de família e não me ressinto de nada, pois sei que a vida é um maldito jogo. Curiosamente, sempre fui avesso a jogos, assim como nunca tive nenhum vício, nunca fumei, nunca bebi e nunca usei drogas, de nenhuma natureza. Meus vícios cedo afloraram, pois para não fazer barulho em casa, me sentava na praça e lia vários livros ao mesmo tempo. Talvez O CAVALEIRO DA ESPERANÇA, de Jorge Amado, foi o livro que livro inteiro e sem interrupções. Certamente, o primeiro.

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O senhor Aparício Gomes da Silveira, um homem fabuloso, abriu-me, aos 15 anos, a grande biblioteca do partido comunista aqui de Santiago. Lembro-me bem de ter lido Jorge Amado, Érico Veríssimo e Graciliano Ramos numa lacuna de 2 anos, até meus 17 anos, quando deixei de lado a literatura nacional para mergulhar em Leon Tolstoi, Fiódor Dostoiévski, Vladimir Nabokov, Máximo Gorki, e algumas pinceladas em Boris Vasilev, embora a biblioteca tivesse quase todos os escritores russos. Entretanto, tive uma enorme paixão por  Dostoiévski, mas aí, já adulto, fui de cara para o existencialismo francês, com Sarte e amei Camus, embora sequer fosse francês, mas foi uma leitura que marcou muito a minha vida. Aprendi com o existencialismo francês sartreano ateu a conhecer o existencialismo de Kierkegaard, que era cristão e muito criticado pelos comunistas. Mas cedo, muito cedo, entendi  bem o existencialismo comparado de Sarte e Kierkegaard, sabendo de antemão ser um ateu e o outro cristão. 

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Logo, logo, muito cedo, fui conhecendo Foucault, a quem li, de cara, A História da Loucura, a História da Sexualidade, Vigiar e Punir, A Arqueologia do Saber e Microfísica do Poder, embora, anos mais tarde, tenha comprado quase todas suas obras, O Nascimento da Clínica e o Nascimento da Biopolítica, e O que é um Autor, livro que me marcou profundamente. É claro, a partir da Foucault, já em Porto Alegre, comprei obras completas de Freud, o li e devorei quase tudo, Deleuze  e Guatarri. As vezes, acho graça do meu jovem amigo, DAVI DAMIAN, um psicanalista sério e que conhece filosofia, e ele não entende, creio eu, de onde eu conheço e nem como eu conheci essas correntes filosóficas e as quais ele teve contato no Doutorado em Psicanálise na UFRGS.

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É claro, eu sempre fui um pouco desconsertado no sentido de aplicar-me numa só área, tanto que cursei sociologia, e mergulhei em áreas diversas, como estudos de demografia, população, povo e estados, assim como os clássicos de Marx, Weber, Durkheim e Comte. Foi um curso fabuloso, pois tive grande professores como Raul Pont, que nos fazia ler O CAPITAL em sala de aula, em voz alta, Helga Iracema Landgraf Piccolo, em História Econômica, Social, Política do Brasil e Mundial, é claro, cada disciplina num semestre, e fiquei famoso por ter ter tirado dois dez em cada uma das disciplinas. Darnis Corbeline, foi quem me ensinou e muito bem a fazer Pesquisas Eleitorais, o professor Darnis me marcou muito, tanto até hoje baixo as pesquisas e leio toda a metodologia.

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Só que ao mesmo tempo que cursava sociologia pura, participava dos grupos de psicologia no museu do trem, sábados a tarde, e isso me obrigava (no bom sentido) a ler Freud, Lacan e Jung e tinhas grandes participantes, gente talentosa e estudiosa, Paulo Petry, Cris Lopes, Leonidas Roberto Tascheto, embora esse tenha feito doutorado em educação na UFRGS, e também o Adrio Bessa, um homem muito sério, estudioso e aplicado.

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Eu não sei até onde – quando tento psicanalizar-me – entender o que eu fiz de minha vida, pois sempre tive muito ânsia pelo conhecimento, mas nunca quis estudar nada em particular, tanto que conheço geografia, geopolítica, história e economia com a mesma intensidade, sem nunca ter uma predileção de uma ciência sobre a outra, embora eu próprio ache que os saberes são mais ideologias que ciências.

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Nesse curto circuito da vida,  optei por cursar letras quando vi que o currículo do curso me aproximava da fonologia, e era um pouco centrado em Althusser (a professora Sandra, amada pessoa, nunca descobriu que eu lia Althusser desde os 19 anos, assim como Saussure e Michel Pêcheux, encontrei-me no curso de forma muito doce, embora, com exceção do Froilam Oliveira, um estudioso sério, as meninas do curso não deixavam ninguém prestar a atenção na aula, pois fcavam o tempo todo conversando.

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Embora eu tenha cursado cadeiras em cursos diversos por onde passei, tinha o curso de Direito quase completo e levei meu currículo para a querida professora Michele e me faltavam pouquíssimas cadeiras, sendo que fiz essas e – finalmente – recebi o diploma de bacharel em Direito.

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Honestamente, sempre entendi o Direito como uma grande falácia, são mentirosos, quase ninguém gosta de estudar e todos,  quase todos, vivem de aparências, das roupas, aos calçados, aos carros e nunca gostei do direito, nunca mesmo, embora reconheça grandes e elogiáveis exceções.

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Meu encontro mais magistral, por mais absurdo que possa parecer, foi no final da vida, já velho, que cursei Teologia EAD e foi o meu maior encanto, entendi que se pudesse voltar atrás, teria sido um teólogo, pois era um baita ignorante ao imaginar que os teólogos eram todos deístas, mas encontrei no curso pessoas geniais, altamente estudadas, quase todos ateus e agnósticos e profundos conhecedores de história da humanidade, fora dos manuais e clássicos. Só que eu não tive culpa de entender tudo errado sobre a Teologia desde cedo e descobri a verdadeira essência teológica, já passado dos 60 anos. Foi, certamente, o melhor e o mais profundo curso que eu fiz.

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É claro, nunca escondi de ninguém que estudei e conheço o ocultismo. Pois já contei a história de um sebo em PORTO ALEGRE onde comprei a coleção completa da editora planeta, uma coleção dos 20 maiores ocultistas.

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Já bem adulto, depois de destrinchar VALDOMIRO LORENZ, me dediquei a ler toda uma coleção de ocultistas.

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Francisco Valdomiro Lorenz me ajudou, e muito, a entender a CABALA JUDAICA e, de certa forma, após adquirir tal conhecimento passei a desprezá-lo com a perda de interesse. E nunca mais nada me atraiu, embora sempre mantive o interesse pelo ESPERANTO e Lorenz era um esperantista reconhecido. Até volta e meio eu ainda escreva sobre o ESPERANTO.

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Mas – na mesma proporção em que fui conhecendo a CABALA com LORENZ, fui concluindo, não sei se certo ou errado até hoje, que espírito sequer existia, embora um campo minado de contradições,  e que todas as construções teóricas acerca de espíritos eram apenas conjeturas humanas. Li e entendi os OCULTISTAS, apesar de ler quase todos os volumes, porém chocado com as conclusões de todos, entendi que todos pensavam iguais o mistério da vida e o destino da alma, tudo era reencarnação.

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Admito que foi o teólogo ateu OSVALDO LUIZ RIBEIRO quem me deu as luzes mais próximas do que eu sempre pensei acerca da vida e de almas e espíritos, pelo menos foi a pessoa que me deu as explicações mais convincentes.

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Foi o médico-psiquiatra judeu Leonardo Grabois quem levou-me nesse
sebo raro e contou para o nosso amigo proprietário que eu era iniciado; nessa ocasião, comprou dois livros de Papus, tratado de ciência oculta elementar, volumes I e II e presenteou-me, apesar de minha resistência em estudar tais literaturas e eu nunca ter sido iniciado coisa alguma.
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Na ocasião, descobri que os livros de Papus integravam uma coleção da revista planeta. Apenas guardei-os  pelo carinho do amigo. Passados uns anos, num outro sebo, na João Pessoa, em Porto Alegre, por acaso, encontro um outro exemplar da mesma coleção, Paracelso, “A chave da Alquimia”.  Comprei o livro e guardei.
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Com o passar dos anos, mais velho, mais maduro, lendo Paracelso e Papus, senti um relativo desejo de comprar toda a coleção, pois nela havia algum significado fora da simples concepção de compra e venda de livros.
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Em março de 2010, no velho sebo onde se respira judaísmo, deixei meu cartão e a pedi ao amigo proprietário se algum dia ele tivesse tal coleção, que me ligasse, que a compraria.
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Quase quatro anos depois, em janeiro desse ano, ele ligou-me. Contou-me que estava com muitos livros de uma biblioteca particular de um velho iniciado, porém, de origem russa, não era judeu. Foi desse falecido que caiu em suas mãos os 20 volumes da coleção planeta. Ofereceu-me tudo. Achei caro o valor pedido, mas pensei na Nina e decidi fazer o depósito; o fiz nos últimos dias.
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Numa sexta-feira recebi o pacote. Os livros são bem conservados. Mas – finalmente – reuni KRISHNAMURTI, PARACELSO, ALLAN KARDEC, NOSTRADAMUS, BLAVATSKY, ROSO DE LUNA, BORREL, PAPUS, FIGANÍERE, MOLINERO, GUAITA, KOSMINSKY, LEPRINCE/FOUGUÉ, NICOLAS FLAMEL, SHIMON HALEVI, AUROBINDO e IDRIES SHAH. 
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PAPUS era um médico espanhol da ordem martinista, diferente de Allan Kardec que era formado em letras e aqui em Santiago o chamam de médico. O nome de Allan Kardec era Hippolyte Leon Denizard Rivail, assim como o do médico espanhol PAPUS era Gérard Anaclet Vincent Encausse. Contudo, LEPRINCE/FOUQUÉ realmente é muito sério e seu livro AS MEDICINAS DIFERENTES é um  de um conteúdo fantástico.
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Aproveitei a noite de um sábado para ler o até então desconhecido Idries Shah, na verdade, autor de 2 volumes, o primeiro deles intitulado “Magia Oriental” e o segundo “Ritos Mágicos e Ocultos”.
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Durante muitos anos dediquei-me apenas a ler clássicos; vivi muito sociologia, filosofia e psicanálise (embora a anti-psiquatria tenha me seduzido ao extremo). Assim, nunca fui além de Freud, Lacan e Jung. Entretanto, voltei muitos anos no tempo. Num grupo de estudos freudianos que tínhamos em São Leopoldo, nos idos de 86/87/88…debochávamos de Jung, justamente pela crítica que o apresentava como místico, ligado às ciências ocultas…Curiosa minha volta, alguns diriam: curioso corte epistemológico, mas a verdade é que iniciei uma transição de Freud para Jung, um fato que jamais teria admitido anos atrás.
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Sou apenas um conhecedor do ocultismo, assim como sou do direito, da psicanálise, da sociologia, da filosofia, das letras, da literatura, da história, da geopolítica, aprendi um pouquinho de cada coisa e fui indo em direção a um breu, um breu no qual até hoje não entendi a saída e nem sei se existe saída.
Mas é o sentido da vida, até que encontramos a morte, que é, ou pode ser, um fim ou um começo, até hoje não sei e acho que nunca vou saber.  Afinal, a morte é um mistério, talvez o maior que assombre as pessoas que pensam um pouco sobre o destino da vida e da alma.
escrito direto e sem revisão, 3.40 da manhã desse domingo
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*Jornalista MTb-RS 11.75, Jornalista Internacional com registro de Editor nº 908225, Sociólogo, Teólogo e Advogado.

Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura Textual e também em Sociologia Rural.

Autor de 6 livros e titular de blog www.julioprates.com desde o março de 2002.

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