Anatomia de uma reflexão existencialista

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*JULIO CÉSAR DE LIMA PRATES

Os atos de minha vida sempre foram públicos, abertos e não tenho por hábito esconder nada de ninguém. Assim, haverá mais um capítulo nessa conturbada e controversa relação. Como sempre, aposto no entendimento, na harmonia e no bem-estar da minha filha, posto que se alguém precisa ir para o sacrifício, que seja eu, tudo em nome da construção da felicidade desse serzinho encantador que é a Nina.

Sei que somos falhos e imperfeitos. Jamais quis ser pai em toda a minha vida por temer que – ao colocar um novo ser no mundo – ele viesse a passar o que eu passei. Meus pais viviam uma relação caótica, sempre fomos marcados pela incompreensão e a intolerância. Desde que tive consciência de tudo, optei por não ser pai. Nina, a rigor, foi um acidente genético e justo o que eu não desejava para minha vida, veio acontecer comigo. A separação aconteceu quando ela tinha 4 anos. Há dez anos não tivemos mais paz, vivemos longe um do outro, pai e filha, e é o destino cruel sempre a nos impor sinas e sentenças.

Uma separação de um casal, quando se têm filhos, é o maior pecado que se comete contra esses inocentes, pois eles amam os dois pais, os dois genitores e não entendem os problemas que afetam os adultos.

Por tudo isso, defendo que os filhos sejam filhos da maturidade e mais alta consciência, justamente para não penalizar a inocência e nem matar a infância.

O crime que eu cometi e o crime que todos nós cometemos com o mal que causamos na psique de nossas filhas, não tem retorno, é eterno, eles carregarão para o resto dos seus dias e nós seremos eternos escravos de nossas consciências.

Há anos eu sofro. Mudei meu comportamento. Mudei em tudo. Sou escravo de minha consciência. Sinto as dores de minha filha. Comecei a morrer aos poucos e sei que esse processo de degradação mental,  psicológica e física, será permanente, até a consumação final de minha vida.

 

De qualquer forma, gosto de incitar à reflexão acerca da paternidade e da maternidade. Ser pai ou ser mãe é um ato divino muito complexo, envolve uma teia de relações que vão do céus ao mais profundo da terra. Ser pai é um ato altamente divino e por isso deveria ser encarado como o ato mais sério de nossas vidas. Tão sério quanto gerar é tão sério quanto matar, os dois extremos da vida.

Preparei-me para criar minha filha, orientá-la para a vida e para o mundo, já que sua alma habita a mansão do amanhã. Contudo, falhei e assumi integralmente a falha, pois odeio ficar transferindo culpas e responsabilizando os outros pelos meus erros. O erro não têm desculpas. Quem erra ao não saber manter uma família, como eu errei, não merece perdão. Por isso, não me perdoo e nem me absolvo. Associei meu nome a infâmia e a blasfêmia. Causei dor numa criança pura e inocente. Minha sentença será uma só. É a lei da vida. Causa e consequência.

A vida é cheia de vieses, muitos vieses. Às vezes, sequer descobrimos nossas dúvidas e assim vamos levando nossos dias. Felizmente, o marxismo, doutrina com a qual me identifico desde bem moço, aceita a dúvida e recomenda-a.

Eu nunca tive lugar nesse mundo. Sou inimigo da mentira e sempre me dei mal por falar a verdade. Mas nunca mudei. Julgo que os homens têm seu maior valor a partir de suas palavras e atitudes. Um homem sem palavra é um homem sem honra, sem valor e apenas com preço. Os calhordas que eu conheço, embora falem em valor, são apenas homens de preços, que é algo bem  diferente de valor, muito diferente.

Quando pude ser pai, tentei falar a Nina sobre o peso da ética e tamanho do valor de uma pessoa. O valor, na minha subjetividade, nunca se relacionou com aquisição de bens materiais, de dinheiro e bens afins. Valor para mim sempre foi a ética, o não mentir e a fidelidade aos amigos e as pessoas que convivem conosco. Nunca aceitei a mentira e por ter sido vítima dessa, tento encontrar uma saída enquanto estou vivo.

Sei bem o que é a vida, a sequência dessa e a escravidão genética do qual somos todos herdeiros e escravos. Dentro de mim, e aqui falo apenas para quem saber ler, houve um corte epistemológico muito profundo, muito agudo e muito sério. Talvez foi o maior de todos os cortes que levei em minha vida, sangro até hoje e a ferida exposta é latente em eu olhar.

Pessoas pueris, falsas, gente sem caráter, gente suja, gente que mente para os outros, esses eu sei quem são, onde vivem e sei bem sobre os estercos onde constroem suas vidas. Sei ser  manso e humilde de coração e sei ser o que os pulhas merecem. Por tudo, preparei um longo documento onde exponho as minhas verdades e será a minha resposta aos pulhas, aos mentirosos e aos que se dizem amigos dos amigos.


*Jornalista nacional registro nº 11.175, Registro de Editor Internacional nº 908225, Sociólogo e Advogado inscrito na Sociedade de Advogados nº 9980 OAB-RS. Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura  Textual e também em Sociologia Rural. Autor de 6 livros.  

 

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