É inegável que o Brasil que vive um confronto entre dois campos ideológicos distintos. De um lado, a defesa da quarentena e a não circulação de pessoas como forma de evitar mais contaminações. De outro, a defesa da volta ao trabalho para não quebrar a economia, mesmo sem o controle das contaminações.
As paixões ideológicas pautam o debate, isso é inegável.
A grande questão que aflora é o dilema entre a volta à normalidade das atividades econômicas e a relação com as crescentes contaminações. Hoje mesmo a prefeitura de Canela tornou público que trabalhadores que não estavam em quarentena foram contaminados. Hoje, é manchete as 300 demissões na GM de Gravataí.
Desde cedo percebi esse dilema. Antes de paixões afloradas, de um lado ou outro, o caso requer parcimônia, bem senso e muita análise crítica, à luz dos dois campos de argumentações e sua respectivas narrativas.
Ambos os lados têm argumentos fortes.
A questão que mais aflora – sem sombras de dúvidas – é que a volta massiva das atividades econômicas, sem o devido controle do vírus, implicará – sim – em um elevado complexo de contaminação em massa. E aí a situação se torna imprevisível, com a exposição e morte dos mais vulneráveis, colapso nos sistemas estaduais de saúde e funerários. A questão toda é que a contaminação pode – sim – sair de controle.
Por outro lado, é claro que razão assiste aos defensores da retomada da economia. Mas essa deverá ser altamente educada, lenta, gradual e proporcional à dominação do vírus e achatamento da curva crescente de contaminações e óbitos.
De qualquer forma, é tudo muito complexo. Vejamos esse caso da GM de Gravataí. São 300 chefes de famílias desempregados. Como vão manter a alimentação dos seus filhos e de suas famílias? Esse é outro lado dessa controversa questão.
Os relatos que lemos de moradores de zonas mais fragilizadas, das comunidades do Rio de Janeiro passando pelas comunidades do nordeste e norte, chegando a São Paulo, é que as pessoas simplesmente não têm como resistirem à fome e isso explica à ruptura das quarentenas e à exposição ao vírus ante o assolamento de necessidade iminente de alimentação.
O Brasil vive uma encruzilhada complexa e de difícil equacionamento.
A pauta deve ser o bom senso. A busca negociada de soluções, a necessária ruptura de paixões ideológicas e a construção da fraternidade e a solidariedade de guerra.
Do contrário, o imprevisível será nossa bandeira.