Da correia de transmissão ao espontaneísmo e o amadurecimento de um pensamento de direita de tendências anarquistas e confuso

Minha formação em ciência política, no curso de sociologia, certamente foi ortodoxa e – sob certos aspectos – repito essa ortodoxia nos dias atuais.

Uso os instrumentais de análise de que disponho e observo que devido à hegemonia do PT e dos partidos do espectro de esquerda sobre os movimentos sociais, sindicais, associativos/classistas e estudantis, as manifestações ficavam à mercê do controle desses e os corações e as mentes ficavam subjugados a esses.

Lembro-me das últimas grandes manifestações do país e todas elas eram dirigidas e direcionadas, da campanha das diretas ao movimento fora Collor, havia a clássica direção e orientação de partidos, de sindicatos, de associações e de organizações estudantis, no caso, a UBES, as UEEs e a UNE. Não sem razão, os partidos políticos sempre apostaram, definiram e mapearam os grandes e principais aparelhos ideológicos. Sindicatos, sempre foram objeto de disputas entre os partidos de esquerdas. A UNE, por exemplo, sempre foi objeto de grandes disputas entre o PC do B e o PT, principalmente. Em nosso Estado, a UGES e a UEE sempre foram alvo das mesmas disputas.

Não sem razão, a teoria leninista pura chega ao extremo de propor o controle do partido bolchevique sobre os clássicos aparelhos e Vladmir Ilitch Ulianov falava que devia haver “uma correia de transmissão” entre o partido e as organizações da sociedade civil.

Na mesma linha, surgem também às teorias de conquista de hegemonia do italiano Antônio Gramsci; e o francês Louis Althusser sistematizou a lógica dos aparelhos ideológicos da sociedade. Aqui na América do Sul, tivemos o privilégio de termos uma Marta Harnecker, no Chile, que foi a maior intérprete e sintetizadora do pensamento althusseriano.

O certo é que todas essas teorias clássicas, passando por Gaetano Mosca, François Châtelet, Evelyn Pelissier, Jacques Derrida com suas desconstruções … todos sempre entenderam a emergência das massas, a eclosão de multidões,  dentro das fórmulas tradicionais, especialmente com as grandes experiências internacionais, da Comuna de Paris, aos bolcheviques da 1917, ao maio de 1968,  na França; não tínhamos a emergência de movimentos sem comandos, tipo isso que Marilena Chauí denomina de “espontaneísmo”.

Mesmo que falem em Malatesta e outros grandes teóricos do anarquismo, sejamos francos, esses também não pregam um movimento sem comando?

Quando eclodiu a primavera árabe, principalmente as agências de noticias ocidentais, insistiam na tese da eclosão de movimentos espontâneos, livres e sem um comando formal. Entretanto, sempre tive uma objeção a tudo isso, pois lendo a Voz da Rússia e as fontes da Al Jasseara, sempre notava um forte comando sobre os movimentos, especialmente da irmandade muçulmana e nunca me convenci totalmente do espontaneísmo desses movimentos.

Agora, contudo, em nosso país, surge um movimento de protestos desafiador. A rigor, é um movimento sem lideranças formais e a adesão popular – em certo momento – surpreendeu a todos e gerou grandes equívocos de interpretações. É identificável, sim, a adesão anarquista (disse isso nos primeiros documentos que produzi), mas também havia outros, tais como os punks e os neonazistas.

Se formos considerar que partidos de esquerda, como os trotskystas PCO, PSTU e outros, veremos uma  grande confusão sem precedentes. Contudo, mesmo nessa confusão ideológica, que reúne de troskos a neonazistas, havia um chamamento ao protesto e a adesão popular foi o coro que engrossou tudo e gerou a perplexidade nacional.

E é exatamente a partir dessa adesão de massas, com bandeiras difusas, que os rumos dos protestos descambaram para o imprevisível. E agora, com essa queda astronômica da Presidenta Dilma nas pesquisas de opiniões, surge um fato novo em tudo isso: o efeito dos protestos na opinião pública do país.

Se tudo isso se confirmar, estaremos diante de um extraordinário fenômeno de ciência política e aí certamente vamos operar um bom tempo com o campo das subjetividades e especulações. Por exemplo, a construção de estádios afrontou o povo que sofria nas filas do SUS. A proteção que Dilma deu aos políticos envolvidos com o mensalão gerou a revolta das pessoas. 

Tá, mas e aí, mas quando houve o despertar dessa consciência?

Bem, temos que dizer, também, que os estudos sociológicos e filosóficos de Georg Lukács  e consciência de classe com seus níveis de amadurecimento estão decididamente em xeque, pois uma consciência coletiva de uma nação, como o Brasil, não desperta do dia para a noite ou por uma simples convocação em redes sociais. Santa ingenuidade imaginar isso. Esse movimento acaba sendo hegemonizado pela direita.

Por tudo, temo que os desdobramentos desses protestos ainda não foram compreendidos em sua extensão e ninguém sequer sabe a origem e nem como despertou-se essa consciência coletiva, que rasga todas as teorias do húngaro fantástico que povoou nossa fertilidade sociológica fazendo-nos crer que o amadurecimento de consciências obedeciam níveis bem delimitados. História da consciência, reificação, foi tudo para o saco os próprios paradigmas dos nossos cursos de Mestrados e Doutorados em ciências sociais estão cruamente abalados. Ou mentiram o tempo todo ou foram tolos o tempo todo.

É claro, ante a ausência de uma explicação razoável, ficamos traçando paradigmas (questionáveis) com as explosões árabes. O certo é que se estávamos desorientados até a última sexta-feira, essa Pesquisa eleitoral botou tudo em xeque e de forma ainda mais precisa.

Tem um segmento teórico do PT que insiste em dizer que esse movimento é fomentado pela direita, concordo até certo ponto. Não tenho a mesma convicção, não creio que seja assim. Creio apenas que estamos operando num campo de imprevisibilidades. De enormes imprevisibilidades, até porque se quisermos sermos honestos, temos que admitir que nossa crise de paradigmas é espantosa e nossa impotência está expressa em nossa incapacidade de leitura social.

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Pesquisa PoderData divulgada hoje mostra Bolsonaro se aproximando de Lula, cai muito a diferença

Agora no primeiro turno Lula tem 40% e Bolsonaro tem 31% das intenções de votos pelo PoderData. Em um mês a distância entre os dois diminuiu 5 pontos percentuais e Bolsonaro se aproxima muito de Lula.

Lula e Bolsonaro seriam os candidatos que iriam para o 2º turno, se as eleições fossem hoje…Não existe mais a hipótese de Lula vencer no primeiro turno.

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