*JULIO PRATES
Perseu era um homem pobre. Vivia recluso em sua pequena aldeia, não tinha pretensões, não tinha casa, não tinha meio de transporte, apenas caminhava a pé para fazer suas rotinas. Seus pais dividiram-se entre escolher o nome de um imperador romano ou Perseu, filho de Zeus e Danai, um problemático herói da mitologia grega e acabaram escolhendo o romano.
Entre grego ou romano, foi registrado pelo nome romano, embora sua mãe, desde criança, sempre o chamasse de Perseu, pois ela era convencida dos poderes sobrenaturais de Zeus.
E Perseu foi assim criado, numa aldeia que mesclava a alta erudição com a pobreza de seus pais, que se esforçavam para boa alimentação ao pequeno filho.
Ensinado em escolas rudimentares, precárias, criou-se ouvindo as histórias de sua mãe sobre o império romano, grego, e histórias subjacentes, numa época onde tudo era precário e rudimentar.
O pai de Persou morreu mais cedo e sua mãe morreu logo após alguns anos. Odiado por sua família, aprendeu desde cedo a entender o convívio contrário e as oposições. Foi levando sua vida, quase sempre sem rumo, habitando um pouco em cada lugar, pois sempre soube que a vida lhe levaria a morte e apenas preparou-se para o encontro absurdo.
Quando menos esperava encontrou um presente raro de Deus, uma flauta mágica, que veio a sua vida e começou a lhe ensinar o reviver após seus sopraninos, contraltos e embora os tenores o encantassem em sua graça e magia e sempre os fundia com os sopranos. E assim, sem rumo, pobre e miserável, redescobriu no amor da flauta um sentido em sua vida e passou a viver o dom angelical de tudo que a flauta mágica o encantava.
Perseu vivia quieto, mas nunca quis nada demais, exceto quando fluiu o amor de sopranos e tenores. A flauta era tão encantadora que só ela sabia ser mágica e sabia tudo sobres seus acordes.
A mãe da flauta mágica de Perseu preferiu buscar o atalho do caminho de Hades e, embora viva, jogou-se em busca de um caminho o qual Perseu não poderia seguir. Apenas assistiu a tudo e reivindicou apenas o direito de ouvir sua flauta. Seus sonhos foram destruídos, pisados, chicoteados, mas resistiu.
Um dia apareceu Tifão, um poderoso homem, que se declarou amigo de Perseu e apaixonado pela flauta mãe. Usando os poderes de Nemesis e Ares armaram tudo o que foi possível para gerar a desgraça em Perseu e a certeza que de sua desgraça ele seria levado ao suicídio. Entretando, Perseu logo entendeu que seu amor pela flauta mágica e seus raros acordes poderiam dar-lhe forças para sobreviver e lutar para que ainda pudesse ouvir sua flauta enquanto fosse vivo.
O poder de Tifão era tão grande e majestoso e ainda era apoiado por Équidna e outras pequenas hecatonquiras, malversadoras dos nomois e que se achavam donos até dos nomos.
Encurralado, sem outra alternativa, Perseu descobre que precisava jogar todos os feitiços e maldades contra Tifão, embora sem a certeza de que o poderia atingir. Sabendo a oscilação de sua mãe entre gregos e romanos, decide falar com Têmis e Iustitia, embora já tivesse se tornado um á-theo.
Na maldade de Tifão usando hecatonquiras foi relatado as doenças que se abateriam sobre si, até que ele fosse levado ao suicídio.
Entretanto, houve um erro na pretensão de Tifão e Équidna, pois eles nunca imaginaram, nem de longe, que Perseu soubesse mexer com com o ocultismo de sua era, do modernismo. E leitor ávido de Crowley, conhecedor raro de cabala, conhecia até os thelemas de sua aldeia, embora uns soubessem dos outros, nunca nem chegaram perto de Perseu. Haviam muitas incógnitas desde quando Perseu atacou, pessoalmente, Circe, que houvera debochado de Perseu que comemorou seu aniversário sozinho.
Assim, Perseu decide transferir todas as desgraças que Asclépio relatou contra si, para que caíssem sobre Tifão e encomendou sua morte com as doenças que Asclépio tentou impingir-lhe e pedido de Tifão. E assim estudou todas as desgraças que se abatariam sobre o mesmo que afastou sua flauta mágica e vedou-lhe a oitiva de seus sons maravilhosos. E assim fez, usou a magia de afetar os neurotransmissores de Tifão, pois sabia que a doença e o feitiço seriam tão cruéis quanto a dor que Tifão e Équidna, lhe haviam imposto.
Certo dia, um amigo, embora não médico, mas lhe relatou sobre os passos de Tifão e teve a certeza do afeito dos poderes que invocou.
Agora, quieto, recluso, Perseu apenas estuda em liberar os poderes mágicos que sabe manipular para destruir a todos que lhe causaram dores e sofrimentos. Sabe tudo o que fazer, sabe os rituais, quem atingir e como atingi-los.
Apenas analisa tudo, quieto, calado, introspecto, dormindo no chão e estudando as teses do velho Lorenz, de quem tudo lê sobre cabala.
*É jornalista, sociólogo, advogado e autor de 6 livros.