Diógenes, o filósofo grego, sua lanterna e nossos corpos adestrados e devorados

Em certas ocasiões sinto-me como Diógenes, o filósofo grego. Já escrevi sobre isso em passado recente. Pego a lanterna, pouco depois da janta, pego a Nina e saio pelas ruas de Santiago. Ando pelos calçadões, paro nos postos, vejo pessoas sentadas nos bares, outras olhando vitrinas e caminhando como se tivessem um trajeto bem definido e suas vidas fossem como o trajeto.

Em crise, sinto uma incerteza quanto ao futuro, pois minha lanterna não me indica nada. Estou só e quero conversar com alguém. Não defino sexo, idade, escolaridade, nada, nada. Apenas procuro um diálogo no nível da interação possível. Mas nada.

Os proprietários terras querem ampliar mais e mais seu poder destrutivo sobre a natureza e tudo me faz lembrar Pierre Proudhon, que já dizia: la proprieté c´est le vol . Pior que a propriedade ser um roubo, é a passividade com que assistimos ao esboço de propostas que visam assassinar o meio ambiente usando as propriedades e o direito de destruir. Num futuro muito próximo todos nós pagaremos os tributos dessa omissão.

Minha lanterna não mais clareia, apenas tateio o universo incerto, perplexo com a falta de critérios dos políticos, que não têm posições, apenas se deixam levar pelas circunstâncias eleitorais. Os homens que ficarão eternizados em suas sociedades não são os que andam que nem biruta de aeroporto, ao sabor dos ventos. Ora aqui, ora ali…

A história de cada um de nós dentro de nossa polis só depende de nossa ação ou de nossa omissão. A história não é um ente abstrato, ela é determinada, forjada, escrita em cada gesto, em cada tomada de posição, em cada ação que fizemos ou deixamos de fazer. Assim, o futuro está em nossas mãos, para ser escrito, pelos que intervém na história e a fazem-na acontecer ou pela omissão dos que apenas deixam os fatos acontecerem, escritos pelas mãos de terceiro.

O futuro é como a decisão da Antígona, na obra de Sófocles, ou a gente age, mesmo que desobedecendo, ou a gente deixa nossos corpos expostos ao relento para serem devorados pelos abutres, assistindo a própria desagregação interior, eis que aos poucos vão extirpando nossos pedaços, nossos membros, nossas vísceras…até que não reste mais nada de nós e nossas almas deixem o vazio de nossos corpos, adestrados e devorados.

Odi et amo

O poeta romano Catulo, numa de suas odes, produziu essa magnífica expressão. Traduzindo, quer dizer: odeio e amo. Aparentemente, há um desacerto e a primeira vista as pessoas, que são movidas por raciocínios mecânicos, não aceitam a possibilidade possível dessa dicotomia. Nossas almas, no entanto, são eivadas dessas contradições, afinal, amamos e odiamos numa mesma dimensão temporal. Contudo, raramente admitimos a coabitação desses sentimentos.

Eu odeio e amo muitas coisas, amo outras tantas e odeio outras. Não prevalece em mim só o amor ou só o ódio, prevalece em mim o misto dicotômico.

E não estou me referindo a amor inter-sexual, que é o suposto amor que une um homem e uma mulher ou duas mulheres e/ou dois homens, embora nessas uniões conjugais também esteja presente os extremos.

O exemplo, a rigor, sintetiza os dramas que habitam nossas almas. Nossas indefinições, incertezas, dúvidas e certezas. Bondade e maldade habitam o mesmo corpo. Pessoalmente, não acredito em pessoas boas, só boas o tempo todo. E nem em pessoas más o tempo todo. Acredito em pessoas que sejam boas e más, dependendo do caso, da situação e das conjunções envolvidas.

E creio que tudo é assim na vida. Acredito no cinismo, no fingimento e na falsidade. Acredito e cultuo o sarcasmo, pois vejo nesse valor um precioso instrumental de argumentação. Não gosto de definições prontas e acabadas. Gosto de tudo que está em vias de construção. Não vejo o conflito com ruim, gosto do caos para dele dar a luz uma estrela cintilante, parafraseio aqui o filósofo alemão niilista.

Existem épocas no ano que aflora um processo de descarga coletiva de consciência e quem nunca foi socialista, experimenta pelo menos nessas épocas, um pouquinho do ser solidário. Pena a solidariedade desencarne logo, assim como a páscoa, dia das mães, dia das crianças, dia dos mortos… tem até o dia das mulheres.

Também amo e odeio. Não poderia ser diferente, sou emoção e uma síntese entre a razão e a incerteza, um caos entre as luzes e as trevas. Poderia ser diferente?

A relação entre a resistência de nossas construções e a velocidade dos ventos

Interessante essa discussão aberta sobre a relação que se estabelece entre o vento e a resistência de nossas casas. Nesse tornado que atingiu a cidade de DOM PEDRITO tempos atrás, a velocidade dos ventos foi de 171 km/hora. E centenas de casas foram danificadas, tetos arrancados inteiros.

Um arquiteto, amigo meu, me disse que o ideal era que nossas construções fossem feitas para resistir ventos de até 150 km/hora. Ademais, ele acha que a média de nossas construções locais, especialmente no que tange as moradias populares, a resistência quando muito fica entre 100 e 110 km/hora.

Traduzindo, se nossos conjuntos habitacionais mais pobres forem atingidos por ventos de até 110 km/hora podem saber que o estrago estará feito. O que ocorre está relacionado com os custos baixos dessas obras e – segundo ele – “hoje o problema está todo no cintamento…essas tesouras que recebem os brazilites, o que acontece? Os caras passam uma ponta de arrame em roda da viga de periferia e tá feita a matação…ademais, as madeiras são frágeis, deixam umas longe das outras para pouparem e aí quando vem um vento um pouco mais forte levanta tudo”.

Por mais que se venha com esse papo de que a tragédia é imprevista, a grande verdade é que existem estudos técnicos que estabelecem essa relação entre a resistência das construções e a força dos ventos. Em  passado recente, um tornado similar, embora em velocidade mais baixa, atingiu as imediações de Unistalda, Iguariaçá, Maçambará e parte de Manoel Viana. O estrago foi bem conhecido de todos nós.

Ora, se tal fenômeno climático doravante vai acontecer com mais frequência em nosso meio, está na hora de as autoridades, especialmente o pessoal do CREA, abrir um debate com os profissionais, com a sociedade, com os políticos e até com a imprensa, visando formar uma cadeia crítica sobre o assunto.

É claro que quem deveria puxar um debate dessa natureza era a URI, através do curso de Arquitetura. Prefeitos, vereadores, imprensa regional, agentes políticos, defesa civil, bombeiros, PMs, todos deviam ser envolvidos.

Da destruição ao preconceito. Aquilo que não entendem, o rótulo, é loucura …

A amplitude da assertiva de John Locke, que assevera que o  “O homem é lobo do próprio homem“,  revela-se muito maior no campo psicanalítico que no campo político propriamente dito.

Apesar dos freios morais que as religiões impingem-nos, e aqui devemos nos render a tomística e a escolástica, as pessoas têm uma sede de destruição com relação ao seu semelhante. Parecem que cultivam o prazer em fomentar a torpeza e esse conjunto de sentimentos vis relacionados com à depreciação, com o ato de desfazer, incentivar o ódio e semear sementes de discórdias.

Ninguém gosta de cultivar o elogio às virtudes, apostar na grandeza da alma e valorizar o que temos de bom dentro de nós. O apelo à destruição sempre fala mais alto; o ciúme é um sentimento torpe, que até hoje, com todo o avanço no campo da ciência mental, ainda não conseguimos domesticar, nem estou falando em reprimir, estou falando apenas em domesticar.

O que as pessoas não entendem, elas preferem rotular de loucura. O que escapa ao seu alcance, não é parte da cultura limitada de suas vidas, nem da razão e nem do seu conhecimento parco. A loucura é o rótulo mais fácil para destruir e desqualificar com uma pessoa.

Não sei como esses seres se defrontam com Deus em suas intimidades. Não sei como trabalham perante Deus, se é que têm consciência do mal que praticam ao destruir uma pessoa, aniquilando com ela, seus valores, seus conhecimentos e reduzindo toda uma complexidade de saberes e conhecimentos a um simples rótulo de satisfação intimista subjetiva: “aquilo é louco”, “aquilo é loucura”.

Eu vivo num meio triste, onde citar um simples autor e refletir sobre esse, implica em receber uma carga de depreciações; não sou irracional, pelo contrário, mas não tenho prazer em viver numa sociedade onde não há sintonia, onde as pessoas não estudam e criticam com virulência e destruição, os que ousam estudar e tentam partilhar com os demais reflexões que podem somar e ter alguma utilidade na vida.

A pobreza de espírito é a maior das misérias humanas. A riqueza material existe somente aos olhos de quem quantifica os valores da vida em pedaços de matérias. Haverá o dia, se é que haverá, que todos cairemos na realidade, primeiro, que somos todos iguais, uma só raça na face da terra, que nada dos difere uns dos outros, a doença e a impiedade da morte atinge aos adeptos da matéria e de todo o conjunto de bens materiais. Não importa a casa, a mansão, o casebre ou mesmo o chão do morador de rua, não importa o carro, a marca do carro, o ano, o valor, o certo é que todos nós, os possuídos e os despossuídos, arderemos o mesmo destino, a mesma fatalidade da vida que a tudo e a todos consome.

Eu me exponho com a escrita. Sou um alvo fácil. Por ler e estudar, fora dos manuais e por buscar outras fontes de saberes, sou o alvo preferido, sou o ataque mais fácil, nunca ninguém viu virtudes, não que as busque, mas porque reconheço que sempre pesa e fala mais alto contra a mim é a voz da destruição. Todas as pedras sociais têm em mim um endereço. O endereço de minha vida, é o ponto cativo do carteiro-destino.

Minha filha, quando vai tirar fotos comigo, insiste: sorri papai. Domingo quando a levei, sentamos num campo. Rolamos no chão, ela brincou tempo comigo, sorriu, me beijou, mas ela já mimetizou o quadro social da minha dor, por isso me entende e – nos limites de sua compreensão – procura passar-me o afago e o afeto tão necessários para eu sobreviver, enquanto perdurarem meus dias na face da Terra.

O mais, a voz e a ação dos destruidores e dos que se perturbam pela existência alheia, somando aos que abominam o que não entendem, formam um caratujo coral diabólico, esses – sim – são os agentes do demônio, esses fazem o papel do diabo, às vezes, pessoas do nosso próprio sangue, lastimavelmente.

Da mesma forma, de pessoas que convivem ao nosso lado, de pessoas que conviveram embaixo do nosso mesmo teto e fizeram de nossas vidas escadas para suas subidas.

Por fim, temos ainda aqueles e aquelas, que, compreendendo, mas não conseguindo captar a dimensão além dos seus próprios limites, esquecendo-se de que a limitação está em si e não nos outros, partem para o mesmo ataque de depreciação e destruição. É sempre mais fácil e mais cômodo destruir com palavras e juízos do que enfrentar com os mesmos argumentos, arquétipos e arqueologias, pois um aporema mal sabem se é manteiga ou geleia, se é de passar no pão ou recheio de um peixe.

A cruz e o madeiro de Cristo é um fato histórico. Contudo, o cruciato de vidas na vida em sociedade é um fato diário, real e concreto. Basta não gostarmos do que uma pessoa escreve ou mesmo não entendermos o que ela quer dizer, que emerge o cruciação da depreciação, do rótulo de louco, dos juízos despudorantes contra a honra e do achincalhe como resposta às próprias insipiências do espírito humano.

Não me lamento, enfrento. Tenho a consciência consciente. Sei de mais coisas que os vulgos imaginam. Os ataques pueris e destrutivos caberão ao Eterno julgar, não a mim. Os que se perturbaram com a minha presença e existência e investiram pesado, Deus sabe de tudo, Ele tudo vê. Estou sereno. A dor, se aprende a conviver com ela. Aprendi a conviver com toda a sorte de retaliações e perseguições. Sobrevivo. Estou nas mãos de Deus, O Eterno.