Nossas vidas em sono REM e a perspectiva dos sonhos

*Júlio César de Lima Prates

Minha mãe foi muito machucada pela separação dos seus pais. Sofreu muito e depois de retornar ao Brasil, negou-se a visitar sua própria mãe, porque essa casou com outro homem e morava no Alto Uruguai.

É claro que ela era muito machucada com a história. Sempre foi assim, amor e firmeza de posições, tanto que nunca quis visitar sua mãe.

O nome de solteira de minha mãe era JANDIRA SOARES DE LIMA e casada ficou JANDIRA LIMA PRATES.

Fui criado ouvindo histórias das perseguições dos romanos em face dos cristãos e do assassinato de Jesus Cristo. Minha mãe sempre foi de me contar longas histórias, longas e longas. É claro, Ranchão, o Déio Soares, se misturava com as histórias de Jesus Cristo. E assim fui sendo criado. Minha diferença de idade é bem regular acerca das outras duas filhas de minha mãe.

Numa era de precariedade de comunicações, eu vivia mergulhado nas histórias das edições Paulinas, que minha mãe comprava, depois lia e de contava trechos, isso bem antes de eu aprender a ler.

Foi com minha mãe que eu criei uma identidade muito forte com os pobres e sempre a defesa dos oprimidos. Minha mãe não gostava de Polícia e era, em tudo, o oposto de meu pai.

Contra jogos de baralho, bebidas alcoólicas, avessa a qualquer tipo de prostituição e altamente moralista. Já quase do final de sua vida, numa noite, perguntei a ela porque a negativa de ver sua mãe. Ela custou a responder-me, pensou muito e disse que uma mãe não abandona os filhos e nem larga do marido. A rigor, não estranhei sua resposta, disse-me o que eu sempre ouvia dela.

Com a separação, meu avô resolveu criar seus 3 filhos sozinho. Afora Jandira, o Garibalde Soares de Lima e o Romeu Soares de Lima, foi quando voltaram de Três Passos, na barra do Alto Uruguai e meu tio Garibalde falava muito mal o português, derivando-se daí o apelido de Castelhano, criou-se na Argentina. Para ela, meu avô e era muito sério e honrado e minha avó não tinha espaço em sua vida.

Não sei bem, mas acho que ela amaria muito a NINA (foto ao lado), ao seu modo de gostar.

Jandira vivia repudiando as maldades e sempre em absoluta sintonia com os pobres e açoitados.

Vivi numa época que os guris criavam passarinhos em gaiolas, cardeais, canarinhos belgas … Só minha mãe nunca deixou-me criar nenhum passarinho. Para ela, a beleza dos pássaros eram soltos e na natureza, jamais numa gaiola.

Existem pessoas que não sabem das coisas e vivem emitindo juízos sobre o que não sabem. Existem segredos que são para sempre serem segredos e as fofoqueiras não entendem o que isso quer dizer.  Um dia ainda vou contar como eu descubro o que falam ao vento, sem perceberem que é justamente o vento quem carrega tudo. Grandes calúnias contra mim partiram de onde ninguém imagina, embora eu saiba de tudo, tudo, com detalhes. Por isso, prefiro viver quieto, isolado e sem nenhum problema com a solidão. Isolado, é bem melhor que no epicentro de maldades e intrigas.

Minha mãe me ensinou a nunca cometer injustiça contra uma pessoa e a nunca perdoar bandidos.

Fui ensinado a nunca matar passarinhos, mas fui ensinado a matar bandidos. Curiosa essa situação. Minha mãe sempre me disse que o assassinato, quando não tem outra alternativa, é sempre válido. Guardei bem essas lições.

Hoje, dia das mães, não vou até o cemitério, por isso vou comprar um plano crematório para mim, acho mais saudável a queima dos corpos. Minhas aulas de Medicina Legal, no curso de direito, eram no próprio IML, em Porto Alegre. Tive a felicidade de ser aluno de Wolff Dick, dois semestres de Medicina Legal, aulas que eu guardei tudo muito bem. Meu querido professor morreu em 2022 aos 96 anos.

Um dia eu conversei com o Wolff e perguntei se ele acreditava em alma. Ele olhou bem sério para mim, tipo assim: isso é pergunta que se faça? E nunca fiquei sabendo o que ele realmente pensava. Minha turma era cheia de oficiais da Brigada, o próprio Fábio Fernandes que foi comandantes-geral da BM, foi meu colega de aula.

Muita gente da civil e até a Alessandra Spalding foi minha colega. Achava coisa muito doida a fé das pessoas. O desembargador Carvalho Leite  era o terror da gurizada e suas aulas de IGP… grande professor, pessoa fabulosa.

Policiais civis e militares eram quase todos espíritas e nos dias de provas eram só orações e mandingas, embora ninguém seguisse o alcorão … eu já era meio ateu e não acreditava em forças do além … como eu ía bem nas provas, tirava sempre notas excelentes, com o Desembargador Bráulio Marques tirei dois 10 e com o Desembargador Carvalho Leite tirei dois 9.0 e 8.5, todos queriam saber dos meus santos, só que meu segredo era bem óbvio, apenas prestava atenção nas aulas e estudava bem para as provas. Foi nesse período que eu trabalhei com a intelligentsia da Receita Federal e com o corregedor-geral Moacir Leão. Assistia as aulas em Porto Alegre e seguia vôo para São Paulo, e retornava a Porto Alegre quase sempre a noite. Vivi assim 3 anos. Mas aproveitava bem meu tempo, muito bem, pois lia tudo e comprava excelentes livros.

Eu apenas sonho com minha mãe, sonhos sem nexo, sem sentido e avesso a tudo. Enfim, são nossas vidas. Mas sonho. Geralmente no sono REM, Rapid Eyes Movement,  é quando nossas memórias são processadas e o conhecimento é bem metabolizado e armazenado.

A vida dá cada volta.

Minha mesa de estudos e reflexões
Minha mesa de estudos e reflexões

Planejei nunca mais sair de Santiago, mas a proposta de um amigo é quase irrecusável e dentro de minha área. Terei que decidir, pode ser que eu sonhe com minha mãe e ela me dê alguma luz.


*Autor de 6 livros, jornalista nacional com registro no MtB nº 11.175, Registro Internacional de jornalista nº 908 225, Sociólogo e Advogado inscrito na SA OABRS sob nº 9980.

 

 

 

 

TORNADO ATINGE O RIO GRANDE DO SUL

FONTE – METSUL

Tornado foi registrado na tarde deste sábado em área rural do município de Gentil, no Norte gaúcho, e que não sofre com enchentes.

Um tornado atingiu neste sábado a zona rural do município gaúcho de Gentil, a Sudeste de Passo Fundo, perto de Marau, no Norte do Rio Grande do Sul ,em um dia que é marcado novamente por chuva e raios em diversas regiões do estado gaúcho.

O fenômeno ocorre com um novo episódio de instabilidade que traz chuva forte e temporais isolados em meio ao desastre das enchentes que assolam o estado pelo evento extremo de chuva do fim de abril e o começo de maio com acumulados superiores a 500 mm em diversas cidades e acima de 700 mm em algumas.