Sobre Pesquisas e Pesquisas eleitorais: anatomia dos erros ou tentativa de indução do eleitorado?

Na medida em que se aproximam as eleições, surgem também os debates sobre enquetes e pesquisas eleitorais. Vou fazer algumas observações, oferecer um modelo de metodologia aos interessados.
Pesquisas prévias, a rigor, não querem dizer nada, basta lembrarmos a pesquisa CEPA-UFRGS, em 2001, um ano antes do pleito, onde Britto e Tarso apareciam com 44% e 42%, respectivamente, e Rigotto, do PMDB, aparecia como apenas 4%. O resultado todos já sabem, Rigotto venceu e Britto não alcançou 13% dos votos. Ademais, as pesquisas são profundamente marcadas por erros e estes são bem conhecidos de quem acompanha pesquisas, cito o caso Marroni x Anselmo em Pelotas, aquele fatídico erro do CPCP que colocava Britto, Vilela e Carlos Araújo na frente de Olívio Dutra e, ao escrutinar as urnas, Olívio venceu todos juntos. Temos um caso célebre, em Fortaleza, onde Maria Luíza Fontenelle, do PT, onde tanto o GALLUP quanto o IBOPE a colocavam em último lugar e ela venceu o pleito a despeito de todas as projeções erradas. O próprio governador Eduardo Leite – por um bom tempo – teve 4% nas pesquisas. O resultado, todos sabem. Em suma, são inúmeros os casos de erros e que demonstram que o valor da pesquisa, enquanto indutor de tendência, é questionável.
O método ideal para a análise científica de auscultar uma dada população seria interrogar a todos, isto é, atingir a amostragem do chamado universo. Sendo impraticável tal sistema, recorre-se a uma técnica chamada de investigação parcial. Seleciona-se um segmento representativo do eleitorado através de amostragens casuais, que garante iguais probabilidades de escolha a todos os votantes, sendo que a sorte e o acaso indicam os que vão compor a amostragem.
A formação do grupo de controle que reflita exatamente na proporção devida das tendências de um eleitorado é tarefa técnica extremamente complicada, razão pela qual o princípio da amostragem casual deve corresponder ao sistema de amostragem estratificada tanto quanto possível. Se tal não for possível, deve-se incluir pesos de alguns fatores variáveis e esses fatores devem refletir-se na amostra, por exemplo, situação sócioeconômica, sexo, idade, escolaridade, religião, entre outros. Uma amostra típica deve compreender distribuição adequada que leve em consideração o seguinte: 1 – zona rural e urbana na mesma proporção dos dados oficiais do censo do IBGE; 2 – grupos de diversas idades; 3 – pessoas dos dois sexos; 4 – eleitores de diversos níveis econômicos, a saber, alto, médio e baixo e, em qualquer dos casos, é imperativo demonstrar a porção do eleitorado a ser inquirido o critério de proporcionalidade. Assim sendo, as amostragens de áreas e de quotas são os dois processos mais comuns.
Como fazer uma pesquisa eleitoral correta em Santiago:
200 amostras, sendo 52% de mulheres e 48% de homens. Dessas, colher entre 11% meio rural, igualmente estratificado pelo critério de sexo. A seguir dividir as amostras por idade, de 16 a 20 anos, de 21 a 25, de 26 a 33, de 34 a 50 anos, e acima de 50. Para se obter o percentual aproximado da investigação se busca proporcionalidade nos dados oficiais, por exemplo, se 56% da população tem acima de 50 anos, usa-se o percentual de 56% para balizar a proporcionalidade das amostras por idade e assim sucessivamente. Acerca da instrução, que também deverá ser estratificada em razões proporcionais, precisa-se antes balizar as amostras entre os níveis de ensino, sendo o primário, fundamental, médio, superior incompleto e completo e variância de 12% com pós-graduação em qualquer nível. Por fim, quanto ao nível econômico, procura-se balizar por níveis de renda, por exemplo, até um SM, acima de um e até dois, acima de dois e até três, acima de três e até seis e acima de seis e até dez e acima de dez. Nesses casos, o intervalo de confiança será de 90% e a margem de erro possível e admissível 3% para mais ou para menos.
As sucessivas auscultações feitas em Santiago padecem de rigor científico. Entretanto, a melhor saída quando não se dominam tais processos metodológicos, é fazer uma colheita de amostras por quantidade, ou seja, delimitar algo em torno de 1000 pessoas, dividi-las por sexo, sempre obedecendo o percentual 52% mulheres e 48% homens. Nessa hipótese, a quantidade tentará se sobrepor à qualidade, resultando daí uma tendência aceitável.

Por que escrevo: por que vivo?

O que dizer e o que pensar de uma quarta-feira? Todos se recolhem cedo, o movimento logo acaba e parece um ritual coletivo comunitário de todos dormirem juntos.

A cidade fica estranha, às ruas vazias e a única sentença é a certeza do silêncio e que logo mais, ao clarear do dia, tudo recomeça nesse rotina amorfa. Mas todos guardam doses de esperanças e ilusões, cultuam sonhos e correm atrás deles. Outras pessoas nem tanto. Vão em busca de um destino incerto e de um calendário patético que registra os traços de uma vida já sem sentido.

Pelas filas médicas e postos ambulatoriais crassa a dor e a melhor busca de esperança reside na magia de alguma religião. Na fila do desemprego, onde arde a catinga nauseante do desespero, um novo dia é sempre um sinônimo de recomeço, visto como uma pontinha de luz numa promessa de fé.

Hoje preferi curtir a madrugada ao longo e penetrar nela sem medo das malidecências de um passado em que vivia intensamente o pavor do pânico noturno. Caminhei pelas ruas, olhei cada detalhe da arquitetura das casas, curti o vôo rasante dos morcegos e decifrei o enigma morto no horizonte pálido que não fala, mas que emite uma sentença fatal.

A praça onde sentei-me décadas a fio observando céus, nuvens e prelúdios de tempestades está deformada pela engenharia necessária de pistas de skates. Emerge uma nova paisagem urbana, um redesenho na acomodação comercial, na semeadura dos sonhos da igreja universal e na desfiguração de uma arquitetura que teve arte, traços leves e graça. Agora, é só compacto bruto de um processo embrutecedor.

O núcleo de Santiago onde impera a náusea, a semeadura da insensatez, está inerte, resistindo ao tempo e dando assas a boçalidades e complôs. Lá está o sindicato do atraso, “reconstruído” sobre heranças de um processo decadente, mas, mesmo assim, resistente, colossal e redefinido, reestilizado, reinventado. Patética heresia.

Gosto, depois de deixar o centro, estacionar o carro ao longo da rodovia que corta nossa cidade, margeando o fundo da artilharia. Afora pensar no cemitério de cavalos e na linha de tiros voltada para dentro da cidade, artes que povoaram minha imaginação inventiva de criança, tenho uma vista contemplativa do núcleo pobre, carente e indigno da cidade. A paisagem não é a mesma. A simplicidade dos traços e da lâmpada posta em frente às casas, os gritos histéricos dos cães, a poeira e o sereno que cai parece mais penetrar no abismo das almas que propriamente dito na telha das casas. Tudo é um cenário de dois mundos, duas realidades e duas construções de sonhos.

Adentro vila Jardim dos Eucaliptos em direção a vila Daer. Um povoado habitacional de expressão que cresceu e tomou um vulto avolumado. As águas sujas de esgotos correm e ouço seu ruído ante o silêncio que reina, cortado apenas por latidos e pelo rangido -ao longo- de uma bicicleta. Olho e vejo um senhor magro, pedalando ofegante. Parece carregar ferramentas, numa caixinha, na garupa. Ele passa e eu fico pensando nele. Para onde estará indo. Ainda não são 5 horas. Deve ter levantado por volta das 4 e pouco. Penso que talvez ele seja feliz. Talvez não tenha consciência da indignidade de sua vida, talvez apenas marche em busca de uma rotina que não lhe afeta sonhos e nem perturba sua existência.

Penso como teria sido diferente minha vida se não tivesse escolhido esse caminho de tentar entender as coisas e decifrar os pactos sociais. Quão bom seria ter sido eu um operário da construção civil? Não sei, nunca saberei. A única coisa que sei com grau relativo de certeza é que sou um grande curioso, gosto de ver as coisas e depois escrever, escrever e escrever.

Diógenes, o filósofo grego, sua lanterna e nossos corpos adestrados e devorados

Em certas ocasiões sinto-me como Diógenes, o filósofo grego. Já escrevi sobre isso em passado recente. Pego a lanterna, pouco depois da janta, pego a Nina e saio pelas ruas de Santiago. Ando pelos calçadões, paro nos postos, vejo pessoas sentadas nos bares, outras olhando vitrinas e caminhando como se tivessem um trajeto bem definido e suas vidas fossem como o trajeto.

Em crise, sinto uma incerteza quanto ao futuro, pois minha lanterna não me indica nada. Estou só e quero conversar com alguém. Não defino sexo, idade, escolaridade, nada, nada. Apenas procuro um diálogo no nível da interação possível. Mas nada.

Os proprietários terras querem ampliar mais e mais seu poder destrutivo sobre a natureza e tudo me faz lembrar Pierre Proudhon, que já dizia: la proprieté c´est le vol . Pior que a propriedade ser um roubo, é a passividade com que assistimos ao esboço de propostas que visam assassinar o meio ambiente usando as propriedades e o direito de destruir. Num futuro muito próximo todos nós pagaremos os tributos dessa omissão.

Minha lanterna não mais clareia, apenas tateio o universo incerto, perplexo com a falta de critérios dos políticos, que não têm posições, apenas se deixam levar pelas circunstâncias eleitorais. Os homens que ficarão eternizados em suas sociedades não são os que andam que nem biruta de aeroporto, ao sabor dos ventos. Ora aqui, ora ali…

A história de cada um de nós dentro de nossa polis só depende de nossa ação ou de nossa omissão. A história não é um ente abstrato, ela é determinada, forjada, escrita em cada gesto, em cada tomada de posição, em cada ação que fizemos ou deixamos de fazer. Assim, o futuro está em nossas mãos, para ser escrito, pelos que intervém na história e a fazem-na acontecer ou pela omissão dos que apenas deixam os fatos acontecerem, escritos pelas mãos de terceiro.

O futuro é como a decisão da Antígona, na obra de Sófocles, ou a gente age, mesmo que desobedecendo, ou a gente deixa nossos corpos expostos ao relento para serem devorados pelos abutres, assistindo a própria desagregação interior, eis que aos poucos vão extirpando nossos pedaços, nossos membros, nossas vísceras…até que não reste mais nada de nós e nossas almas deixem o vazio de nossos corpos, adestrados e devorados.

Odi et amo

O poeta romano Catulo, numa de suas odes, produziu essa magnífica expressão. Traduzindo, quer dizer: odeio e amo. Aparentemente, há um desacerto e a primeira vista as pessoas, que são movidas por raciocínios mecânicos, não aceitam a possibilidade possível dessa dicotomia. Nossas almas, no entanto, são eivadas dessas contradições, afinal, amamos e odiamos numa mesma dimensão temporal. Contudo, raramente admitimos a coabitação desses sentimentos.

Eu odeio e amo muitas coisas, amo outras tantas e odeio outras. Não prevalece em mim só o amor ou só o ódio, prevalece em mim o misto dicotômico.

E não estou me referindo a amor inter-sexual, que é o suposto amor que une um homem e uma mulher ou duas mulheres e/ou dois homens, embora nessas uniões conjugais também esteja presente os extremos.

O exemplo, a rigor, sintetiza os dramas que habitam nossas almas. Nossas indefinições, incertezas, dúvidas e certezas. Bondade e maldade habitam o mesmo corpo. Pessoalmente, não acredito em pessoas boas, só boas o tempo todo. E nem em pessoas más o tempo todo. Acredito em pessoas que sejam boas e más, dependendo do caso, da situação e das conjunções envolvidas.

E creio que tudo é assim na vida. Acredito no cinismo, no fingimento e na falsidade. Acredito e cultuo o sarcasmo, pois vejo nesse valor um precioso instrumental de argumentação. Não gosto de definições prontas e acabadas. Gosto de tudo que está em vias de construção. Não vejo o conflito com ruim, gosto do caos para dele dar a luz uma estrela cintilante, parafraseio aqui o filósofo alemão niilista.

Existem épocas no ano que aflora um processo de descarga coletiva de consciência e quem nunca foi socialista, experimenta pelo menos nessas épocas, um pouquinho do ser solidário. Pena a solidariedade desencarne logo, assim como a páscoa, dia das mães, dia das crianças, dia dos mortos… tem até o dia das mulheres.

Também amo e odeio. Não poderia ser diferente, sou emoção e uma síntese entre a razão e a incerteza, um caos entre as luzes e as trevas. Poderia ser diferente?

A relação entre a resistência de nossas construções e a velocidade dos ventos

Interessante essa discussão aberta sobre a relação que se estabelece entre o vento e a resistência de nossas casas. Nesse tornado que atingiu a cidade de DOM PEDRITO tempos atrás, a velocidade dos ventos foi de 171 km/hora. E centenas de casas foram danificadas, tetos arrancados inteiros.

Um arquiteto, amigo meu, me disse que o ideal era que nossas construções fossem feitas para resistir ventos de até 150 km/hora. Ademais, ele acha que a média de nossas construções locais, especialmente no que tange as moradias populares, a resistência quando muito fica entre 100 e 110 km/hora.

Traduzindo, se nossos conjuntos habitacionais mais pobres forem atingidos por ventos de até 110 km/hora podem saber que o estrago estará feito. O que ocorre está relacionado com os custos baixos dessas obras e – segundo ele – “hoje o problema está todo no cintamento…essas tesouras que recebem os brazilites, o que acontece? Os caras passam uma ponta de arrame em roda da viga de periferia e tá feita a matação…ademais, as madeiras são frágeis, deixam umas longe das outras para pouparem e aí quando vem um vento um pouco mais forte levanta tudo”.

Por mais que se venha com esse papo de que a tragédia é imprevista, a grande verdade é que existem estudos técnicos que estabelecem essa relação entre a resistência das construções e a força dos ventos. Em  passado recente, um tornado similar, embora em velocidade mais baixa, atingiu as imediações de Unistalda, Iguariaçá, Maçambará e parte de Manoel Viana. O estrago foi bem conhecido de todos nós.

Ora, se tal fenômeno climático doravante vai acontecer com mais frequência em nosso meio, está na hora de as autoridades, especialmente o pessoal do CREA, abrir um debate com os profissionais, com a sociedade, com os políticos e até com a imprensa, visando formar uma cadeia crítica sobre o assunto.

É claro que quem deveria puxar um debate dessa natureza era a URI, através do curso de Arquitetura. Prefeitos, vereadores, imprensa regional, agentes políticos, defesa civil, bombeiros, PMs, todos deviam ser envolvidos.