Quem terá peso decisivo na formação, criação, execução, controle e crítica das idéias políticas no pleito sucessório?

Um debate que nunca se exaure, seja em Santiago, na China ou na Rússia, é a existência da assim chamada opinião, afinal: existe opinião pública, quem forma a opinião pública e como se forma a opinião pública num processo eleitoral?

Em caso de existência ou não da assim chamada opinião pública, supletivamente, cabe refletir – admitindo a hipótese dela existir – como então essa se corporifica?

Sabemos que política é arte de mentir, de pensar uma coisa e de dizer outra. Ademais, os políticos falam várias linguagens embutidas numa só.

Por outro lado, o que mesmo vem a ser opinião pública? Longe de teorizações, de complicadas racionalizações, trata-se de um conceito polêmico. Isso quem diz é Paul A. Palmer, autor do clássico Public Opinion in Political Theory, editado pela Universidade de Harvard. Essa obra de Palmer é uma espécie de clássico na literatura inglesa, francesa e alemã acerca dos estudos de opinião pública.

Historicamente, os gregos e, mais tarde, os romanos, já se debatiam sobre o assunto e empregavam locuções semelhantes, falando em consenso populi. Na idade média, cunhou-se a máxima vox populi vox dei e Maquiavel, na obra DISCURSOS, comparou a voz do povo a voz de Deus.

O conceito de opinião pública como participação popular se liga a revolução francesa de 1789 e foi empregado, pela primeira vez, por Jean Jacques Rosseau.

Alessandre Pope, na Inglaterra, escreveu, ironizando: estranha a voz do povo e não é a voz de Deus.

Pierre Bordieu, na França, ampliou o debate e revelou que ele não é mesmo dócil. Disse e desdisse que opinião pública não existe. Complicado.

Fiz essa pequena introdução para mostrar aos leitores do blog e amigos que o debate sobre opinião pública não é recente e nem consensual.

Quem é a opinião pública de Santiago e como se forma a opinião pública em Santiago?

Eu diria que são vários os agentes e muitos os elementos que incidem na tal formação. Porém, tudo varia de acordo com as informações que as pessoas recebem, suas fontes de leituras, seus círculos sociais, suas condições econômicas e assim por diante.

É claro que um assunto de repercussão nacional e/ou estadual depende das fontes macro que abastecem nossas redes de informações. Aí entram os grandes jornais, rádios, canais de televisão e – mais recentemente – os blogs estaduais.

Tudo depende de enfoque, de um conjunto de simpatias e/ou antipatias, a forma como é transmitida a notícia, a eventual manipulação ou não informação, entre outros expedientes.

Eu diria que existem vários níveis de formação de opinião. O público evangélico, em Santiago em torno de 30% da população, recebe um tipo de influência, é educado a ver os fatos políticos de uma determinada forma. Usei o exemplo evangélico apenas a título ilustrativo, posto que o mesmo raciocínio vale para o comportamento das classes sociais, afinal o volume de informações se relaciona com as condições de acesso dessa mesma informação. Os segmentos D e E têm pouco a internet banda larga, poucos lêem blogs, não lêem Veja, Isto É, Folha de São Paulo e raramente lêem a ZH digital. Portanto, seus limites de informações são parcos. E mesmo entre o público de maior acesso a informação, nossos segmentos A e B, existe uma pulverização na recepção da informação.

Aqui em nossa cidade é quase certo que a opinião das pessoas é formada de forma fragmentada. Nossas rádios locais, são pouco opinativas e pouco formadoras de opinião enquanto participação popular na criação, execução, controle e crítica das idéias políticas. Já nossos jornais, foram mais agressivos na formação da opinião pública local. E os blogs, então, esses – sim – são vivamente opinativos e realmente influem, para pior ou para melhor, mas influem. Ao lado dos blogs, instagram e facebook são redes sociais onde também as opiniões são externalizadas com veemência.

Contudo, ouso acreditar que não existe uma opinião pública santiaguense formada, pronta e acabada. Existem segmentos de opinião pública em Santiago e esses são produtos das influências que recebem, leia-se: dos órgãos de imprensa escritos.Rádio, em sua totalidade, é baboseira enquanto expressão de uma formação, criação, execução, controle e crítica das ideias políticas. Pessoalmente, não acredito na forma das emissoras enquanto tal finalidade.

Por fim, outros elementos precisam ser jogados no debate. Desde a sintonia de uma rádio até a tiragem de um jornal, pois isso reflete na maior fatia de público atingida pela ideologia que esse veículo reproduz. Pesa também, a credibilidade e a idoneidade do jornalista ou do radialista. É fácil inferir, que um jornal de grande penetração popular, com jornalistas bem formados, realmente forjam algum tipo de opinião.

O fenômeno mais recente da imprensa santiaguense e regional são os blogs. E o sucesso deles, gostem ou não, está associado a emissão de opinião. Os fortementes opinativos, são os mais acessados. Ninguém gosta da abrir blogs para ler notícias coladas ou releases prontos.

Concluindo, vamos admitir que existe – sim – opinião pública, mas essa se expressa em vários níveis, não é uníssona, nem é a voz do povo e nem é a voz de Deus.

Ela é formada segmentada, recebe influências distintas e expressa-se por áreas de influências, com suas particularidades. Por fim: tudo depende do poder de fogo dos órgãos de imprensa, sua extensão, sua penetração e sua capacidade de “diálogo” com as massas.

Afinal: opinião pública existe ou não existe?

No próximo pleito que se avizinha, OUTUBRO DE 2022, será decisivo o poder de comunicação de massas e aí entrará em pauta as redes sociais. Dados da Fundação Ulysses Guimarães, apresentados em painel local, revelam que 88% do internautas acessam blogs e isso aponta para a importância que os blogs terão no processo eleitoral.

O PP, embora invista em redes sociais, o facebook, por exemplo, acabou desprezando a blogosfera, o que, ao meu ver, constituiu-se num grave erro de avaliação. O facebook, embora comprove a tese de Castells e a sociedade em rede, não forma necessariamente um contigente crítico capaz de gerar um elemento formativo da opinião pública dado a babel que virou.

Um blog, embora com matéria mais longa, mais reflexiva, tende a formar mais opiniões.

As emissoras de rádios, concessões públicas, vão viver uma contradição, pois o direito opinativo dos seus radialistas agora assegurado, trará também – em seu bojo – uma explosão de ação de Pedido de Direito de Respostas, sem dúvidas, e isso confundirá a opinião pública local, somando a sua já duvidosa capacidade de formação de tal.

Os jornais, tendem a cristalizar mais suas opiniões, mas também pecam pela brevidade, pela expressão sintética, embora o Jornal Expresso Ilustrado siga fortemente fazendo escola com seu jornalismo dinâmico e interativo.

Redes sociais atuam em cima do fato, são blogs opinativos e pessoais, não se sujeitam as regras de concessões públicas e na medida em que não são veículos de imprensa propriamente dito terão relativa autonomia (poderão discutir) quanto ao direito de resposta.

Esse processo eleitoral colocará à prova – embora num contexto microcósmico – o tira-teima acerca do poder de fogo de cada segmento formador da opinião pública local.

É claro que as instâncias formadoras não se restrigem, nem de longe, ao monopólio da imprensa, posto que existem as instâncias morais invisíveis que tentarão influir no resultado. No campo religioso, os espíritas, católicos, evangélicos e umbandistas tendem a cristalizar suas opiniões junto ao seu público fiel. Não será diferente, com os CTGs, Escolas, Associações de Moradores, Sindicatos, Entidades empresariais, clubes recreativos, posições classistas organizadas do funcionalismo, militares, civis, comerciantes, pecuaristas e plantadores.

Embora a força interna dessas corporações ou espírito classista de cada um desses segmentos sociais, até no âmbito da família, o certo é que a força da imprensa e o jogo de argumentos aqui colocados, poderão ser decisivos. E quem tiver melhor capacidade de produção textual, linha argumentativa, capacidade de convencimento e maturidade intelectual, aliado a capacidade de provar o que se afirma, tende a atuar de forma mais cristalizada, não pasteurizando a informação, mas cristalizando uma tendência.

É o que veremos. E, finalmente, saberemos se a opinião pública de Santiago existe, se ela é fragmentada, se ela tem uma força majoritária ou até poderemos concluir que ela sequer existe, dado a força da fragmentação e incapacidade de formar hegemonia a ponto de virar e decidir o resultado de um pleito eleitoral.

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Policial Civil condenado por uso indevido do Sistema de Consultas Integradas

FONTE – TJ-RS

O Policial Civil da 2ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo  foi condenado por utilizar indevidamente o Sistema de Consultas Integradas da Secretaria de Segurança Pública, que reúne dados da Brigada Militar, Polícia Civil, Superintendência dos Serviços Penitenciários e Instituto Geral de Perícias. Ele também respondeu por tráfico privilegiado e por interferir em favor de homem preso por porte ilegal de arma.

Na decisão, datada no dia 31/10, a Juíza da 3ª Vara Criminal de São Leopoldo, Patricia Pereira Krebs Tonet, fixou a pena de 2 anos, 1 mês e 18 dias de detenção, mais 120 dias-multa no valor mínimo. A pena restritiva de liberdade foi substituída por prestação de serviços à comunidade, pelo mesmo período, e por prestação pecuniária no valor de três salários mínimos.

 

Cabe recurso da decisão. A magistrada manteve, neste momento, o afastamento do policial de suas atividades.

 

Denúncia

 

Baseado em escutas telefônicas, o Ministério Público (MP) ofereceu denúncia contra LE pela violação de sigilo funcional. De acordo com o MP, em três oportunidades o réu acessou o Sistema de Consultas Integradas indevidamente: para avisar a uma mulher que havia um mandado de prisão contra ela; para fornecer informações sobre uma pessoa a terceiro; e para ajudar uma empresa a localizar o dono de um veículo cujo financiamento não estava sendo pago.

 

O policial foi acusado ainda de tráfico privilegiado, por ter fornecido dinheiro a um rapaz para que ele fosse até ponto de tráfico comprar drogas para poder verificar se uma cadela, que havia sido roubada, estava com o traficante. O animal de estimação pertencia à esposa do réu. Ainda conforme a promotoria, ele e um colega cometeram o crime de peculato, pois utilizaram viatura da polícia para ir até o ponto recuperar a cadela. Além disso, ambos teriam cometido o delito de prevaricação, pois deixaram de prender os traficantes, mesmo depois desses terem admitido que receberam o animal como pagamento por drogas.

 

Além disso, LE teria utilizado seu cargo a fim de interceder junto ao Delegado de Polícia de Pronto Atendimento de São Leopoldo em favor de um homem que fora preso por porte ilegal de arma de fogo. Na conversa por telefone, teria afirmado que essa arma provavelmente era do filho dele, o cara não tem culpa da arma.

 

Sentença

 

No entendimento da magistrada as violações do sigilo profissional estão devidamente comprovadas. A Juíza rechaçou a tese da defesa de que a mulher avisada sobre o mandado de prisão era informante da polícia e, portanto, era importante que não fosse presa: se existe mandado de prisão é porque contra tal pessoa também pesa uma acusação de um delito, provavelmente grave, como ocorria no caso dos autos, em que mulher estaria envolvida em um latrocínio. Ressaltou ainda que a sua atuação como informante foi confirmada apenas pela própria mulher e pelo acusado.

 

Quanto ao tráfico privilegiado, salientou que as ligações demonstram que o réu efetivamente deu dinheiro a usuário de drogas para que este fosse verificar o paradeiro da cadela. Contudo, a magistrada entendeu não ter sido comprovado que o réu e seu colega efetivamente foram até o local, em viatura, buscar o animal. Além de testemunhas afirmando que outra pessoa resgatou o animal, referiu o curto intervalo, de apenas 20 minutos, entre a ligação em que o réu considerava utilizar o carro da polícia e a chamada em que sua esposa é avisada de a cadela foi recuperada. Considerou ser pouco tempo para o policial avisar o colega e para que se deslocassem até o local. Em decorrência da dúvida da ocorrência do delito, decidiu pela absolvição dos crimes de peculato e prevaricação.

 

Ao analisar a acusação de patrocínio de interesse privado perante a administração pública, entendeu pela condenação. Apontou que o policial extrapolou os limites impostos a sua função.

Proc. 21100025321 (Comarca de São Leopoldo)

 

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Um miniconto surreal ou um mergulho no realismo fantástico?

Nessa semana fui exorcizar meu espírito, enterrar meu coração nas areias do arroio Yancundá, em São Francisco de Assis. Foi o ritual mais doloroso da minha vida e lembrou-me a máxima do índio americano, já traduzido para o cinema por Dee Brow.

Sentei-me nas pedras e pude ver as cobras rastejantes. Quando – de repente – avisto Zaratustra, em seu voo rasante triunfal. Ela foi ter sua sentença fatal com o destino da minha vida.

Sentou-se ao meu lado e emitiu juízos decisivos sobre o final dos tempos, sobre a possibilidade possível do impossível e ali selou minha última esperança de vida.

Perdido, arranquei meu coração e entreguei-o em suas mãos. Ela pegou, apertou contra seu próprio peito, beijou-o e deixou o sangue escorrer pelos seus lábios e corpo.

Porém, quando achei que ela o guardaria para sempre dentro de si, eis minha surpresa. Estava entre a vida a morte, estive em Berlim, ouvia a segunda sonata wagneriana em ré menor, voltei a minha sinagoga de Jerusalém, veio o desfile de identidades, as missões na África, era um Kidon morrendo miseravelmente e assistindo ao enterro do seu próprio coração, pois Zaratustra, ao invés de guardá-lo, preferiu enterrar numa cova rasa nas areias do arroio Yancundá. Percebi que era o fim de tudo. Zaratustra tinha feito sua opção.

Ela percebeu que eu me esvaia, mesmo assim, seu olhar foi de profundo amor e reconfortante. Terno, doce, amável, eterno.

Fiquei ali estirado, imóvel, pressentia pedaços de mim pela areia, havia muito do meu espírito e fragmentos de minha alma. Era meu fim, a última chama de vida do meu ser, esta sendo sepultada para sempre.

Sem Antígona para sepultar meus restos, ainda assim assisto ao voo de retorno de Zaratustra, do eterno retorno. Esguia, voava numa plasticidade estética infactível de ser descrita. Voou tão alto que desapareceu de minha visão obscurecida e nauseabunda ante o ofuscamento visual daqueles instantes que separam a vida da morte.

Contudo, eu não morria. Por instantes, pressentia a ruptura da vida com o corpo. Depois, misteriosamente, a vida voltava. E assim vivi frações de segundos que duravam uma eternidade.

Foi num desses lapsos de tempo que percebo F. me olhando. Era minha amiga, não era Antígona. Percebendo que eu morria, desenterrou meu coração, com seus pragmatismo brusco e bruto  desenterra-o, enfia-o no meu peito, mas não recrimina Zaratustra. Ela sabia que o ritual era necessário e que eu lutava por um amor que desse sentido a minha existência.

Pegou-me, arrastou-me. Pôs um blusão preto para tapar o sangue que corria sobre azul de minha camisa e sentenciou: deu Júlio, tu tens que voltar, tu tens a Nina, ânimo companheiro.

No carro, deu-me água, passou a mão na minha testa e sentenciou: nunca tinha visto um amor assim. Referia-se a minha entrega, absurda – para os padrões dela.

Minha filha, apesar dos 12 anos, adora os contos do Gabriel Garcia Marques, os quais a conto desde os 4 anos. Já inventa histórias e colocou esmeraldas nas bergamotas da avó dela, ao invés das esmeraldas das laranjas do Gabo. Apenas uma mudancinha.

Eu não sou Schopenhauer, mas sou Schopenhauer quando não escrevo para tolos. Não sei bem se transito entre o realismo fantástico ou o surrealismo.

Só sei que o homem precisa da arte para não morrer afogado na verdade e na realidade, parafraseando Nietzsche. Essa construção textual é ficção, porém, é verdadeira, em suas metáforas. Tudo foi assim mesmo.

Por ter amado um amor verdadeiro, deixei fragmentos do meu coração, cacos de minha alma, pedaços do meu espírito espalhados pelas areias do Yancundá. Não poderia ser diferente.

Volto para minha filha, voltaremos a fazer pique-niques pelas taperas, brincaremos juntos, manteremos nosso amor enquanto eu sobreviver, não haverá o bolo de chocolate com Zaratustra.

Já não sinto mais dores, estou adormecido, caído, cansado, quero apenas repousar no catre escuro e sonhar.

VOLTO…

Levo um choque, minha filha está crescida, cabelo pintado de vermelho. Mudou tudo em sua vida e agora … ela me fala como uma moça, apesar de seus doze anos. Deu-me uma missão ….tudo mudou….

Ponto final.

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