Jornal e jornalismo

Dia  1º de maio de 1997 foi fundado em Santiago  o Jornal A Hora. Em 2000, surgiu o jornal a Hora on line e em  2002, surgiu o blog Júlio Prates, com domínio limitado no Blogspot, que só aceitava mil postagens.

Avançando.

Nada melhor que falar de imprensa escrita no Brasil, das modalidades hoje conhecidas, a mais antiga. Já na edição de junho de 1808, Hipólito Costa, em seu Correio Brazilienze, escrito e impresso em Londres, asseverava: “O PRIMEIRO dever do homem em sociedade he ser util aos membros della; e cada um deve, segundo as suas forças Phisicas, ou Moraes, administrar, em benefício da mesma, os conhecimentos, ou talentos, que a natureza, a arte, ou a educação lhe prestou. O indivíduo, que abrange o bem geral d’uma sociedade, vem a ser o membro mais disctinto della: as luzes, que elle espalha, tiram das trevas, ou da illuzão, aquelles, que a ignorancia precipitou ao labyrintho da apathia, da inepcia, e do engano. Ninguem mais util pois do que aquelle que se destina a mostrar, com evidencia, os acontecimentos do presente, e desenvolver as sombras do fucturo. Tal tem sido o trabalho dos redactores das folhas publicas, quando estes, munidos de uma critica saã, e de censura adequada, represêntam os factos do momento, as reflexoens sobre o passado, e as solidas conjecturas sobre o futuro”.

No meu livro BOCA DE LOBO, escrevi alguma coisa sobre nossa imprensa, especialmente algumas pesquisas, razão pela qual posso afirmar que a primeira tipografia que surgiu no Brasil data de 1706, no Recife, por iniciativa do então governador Francisco de Castro Morais. E pequena tipografia servia para imprimir letras de câmbio e pequenas orações de católicos. Contudo, a Carta Régia de 8 de junho do mesmo ano, determinou seu fechamento. Veja-se, que mesmo uma simples tipografia, que sequer imprimia jornais, foi alvo de uma decisão imperial, vetando-lhe a existência.

Todos os anais historiográficos são unânimes em afirmar que a Imprensa brasileira surgiu com a própria corte de Dom João, visto que um funcionário da corte portuguesa que fugira para o Brasil, trouxera consigo uma pequena tipografia. Assim, Antônio Araújo, em judeu convertido na corte portuguesa, sem querer, introduziu, oficialmente, a imprensa no Brasil, visto que o Imperador, aqui chegando, ordenou que a mesma passasse a fazer, às vezes, da imprensa régia. Dessa forma, em 10 de setembro de l808, surgia no Brasil, o primeiro número do jornal Gazeta do Rio de Janeiro. Seu primeiro redator-chefe foi frei Tibúrcio José da Rocha.

Estabelece-se, assim, um belo debate; o primeiro jornal impresso no Brasil surgiu dia 10 de setembro de 1808. Já o primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense, impresso em Londres, surgiu dia 1° de junho de 1808. Seu editor, o gaúcho, Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, era um espécie de panfletário, visto que fazia seu Jornal circular no Brasil de forma clandestina, passando de mão-em-mão entre os círculos formadores de opiniões. Perseguido ferozmente desde seu lançamento, em junho de l808, o Correio Braziliense, mantém-se em circulação mensal, porém em dias incertos, até 12 de dezembro de 1822. Portanto, o nosso primeiro jornal, não oficial, durou 14 anos.

Contudo, a assim chamada imprensa oficial, sempre esteve presente no nosso jornalismo. Em 14 de maio de 1811, surge na Bahia, o jornal “Idade de Ouro do Brasil”, redigido pelos portugueses Ignácio José de Macedo e Diogo Soares da Silva. Este jornal defendia o rei a as elites portuguesas e durou até junho de 1823.

O primeiro Jornal nacional com profunda coloração popular foi o Diário do Rio de Janeiro, surgido em  1821. Seu editor-chefe era Vito Zeferino de Meirelles, que usava  caixetas para coletar notícias  pelos bairros da cidade. Qualquer cidadão podia ali colocar uma nota, um texto… Consta que as 2 horas da tarde as mesmas eram coletadas. Contudo, este jornal não foi nem defensor da monarquia e muito menos defensor da independência. Era, a rigor, neutro politicamente. No mesmo ano de 1821, surgiu na Bahia no dia 04 de agosto o jornal Diário Constitucional e defendia fortes colorações políticas. Foi o primeiro jornal brasileiro a travar um embate eleitoral. Também no ano de 1821 surge no Brasil aquele que seria o grande jornal doutrinário da independência brasileira Revérbero Constitucional Fluminense. Redigido por Januário Barbosa e Joaquim Ledo, o jornal criticava ferozmente a corte portuguesa.

O ano de 1821, de certa forma, representou um boom da imprensa no Brasil. Em dezembro deste mesmo ano surge, no Rio de Janeiro, um outro jornal marcado pela polêmica e pelo forte tom político de sua linha editorial. O nome desse jornal era “A Malagueta” de Luis Augusto May. No ano de 1822 surge um  jornal extremamente politizado e dirigido por um jornalista altamente intelectualizado. O nome desse jornalista é Cipriano Barata e o nome de seu jornal é “Sentinelas”. Cipriano Barata, ao que tudo indica, foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a fazer de sua vida um engajamento radical. Nascido na Bahia, em 1764, diplomou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Advogado, preferiu fazer jornal em sua volta ao Brasil, propagando os ideais da revolução Francesa. Foi preso, denunciado como conspirador e seus livros foram queimados em Salvador. Libertado, um ano depois por falta de provas, aderiu a Revolução de 1817 e participou da deposição do Conde da Ponte, em 1821. Perseguido, fugiu para a Inglaterra. Quando retorna ao Brasil o processo de independência estava em curso e Cipriano Barata volta a editar seu jornal e enfrentar novamente a prisão várias vezes.

Um outro jornal surgido em 1822, o Correio do Rio de Janeiro, de João Soares Lisboa parece ter tido a mesma linha do de Cipriano. Soares Lisboa foi preso várias vezes, processado e expulso do país. Tendo obtido anistia retorna ao Brasil e volta ao oficio de jornalista, sendo morto na Confederação do Equador. Destino trágico teve também Luis Augusto May, redator de “A Malagueta”, também assassinado por adversários políticos. Nessa mesma época surge o jornal “O Tamoio”, também um órgão extremamente político e destinado a atacar os portugueses. Outro jornal radicalmente ideológico foi o “Tifis Pernambucano”, criado em dezembro de 1823 por Frei Caneca. Esse jornal combatia o absolutismo e denunciava os crimes da elite tanto portuguesa quanto brasileira. Era ampla sua plataforma ideológica. Ia desde a propugnação da liberdade de imprensa até o ataque feroz aos portugueses e ao trabalho escravo. Seu redator, frei Caneca, foi preso e fuzilado em 1824.

No Rio Grande do Sul, os jornais chegaram um pouco mais tarde, mais precisamente em 1° de junho de 1827 quando surge o Diário de Porto Alegre redigido por Lourenço Junior de Castro.

Sobre os jornais santiaguenses existem algumas imprecisões. O professor Guiray Pozo em seu livro “Um pouco da história de Santiago”, assevera: “o Rio Branco, que parece ter sido um dos mais antigos jornais fundados aqui, apareceu em 1917 ou 1918, tendo com redator chefe o Sr. Djalma dos Santos”. Já Oracy Dornelles, afirma que tivemos mesmo outros jornais anteriores a essa data, portanto persistindo a dúvida. A partir daí, tivemos vários outros jornais e sobre os quais não pairam dúvidas sobre o ano de criação, os títulos bem como o nome de seus diretores ou proprietários.

Ainda no ano de 1917, Phascoal da Silveira fundou e dirigiu em nossa cidade o assim chamado “Jornal de Santiago”. Em 1919, Osvaldo Barcellos cria o “Jornal da Semana” que pertencia a família Garcia. Em 1925, surge aqui o jornal “A Notícia” da família Costa. No ano de 1927, surge também o jornal “O Popular”, e em 1928 o jornal “A Ordem”. Os registros locais são um tanto imprecisos, porém a partir de 1930 parece ficar mais claro uma leitura historiográfica sobre a imprensa local. Jornais como : “O Município”, “O Progresso”, “Pátria Nova”, “O Popular”, “O Destino”, “A verdade”, “A Coxilha”, “A Folha de Santiago”, “Folha do Vale”, “Correio Santiaguense”, “O Júster”, entre outros, por serem recentes, em termos historiográficos não são difíceis de serem estudados.

Na atualidade, temos vários jornais em Santiago. O Jornal Expresso Ilustrado, criado por João Lemes. O Folha Regional, criado por Itacyr Flores, redefinido por Cleudo Irion e Cláudio Irion, chama-se A Folha Santiago, do Grupo Editorial Folha. Temos, ainda, o Jornal Correio Regional, de Leonardo Rosado, sendo sucedâneo do Jornal Correio Santiago, criado por Sérgio Bueno. O Jornal Matéria Prima, criado por Júlio Martins e Ieda Beltrão, deixou de existir. O Jornal A Hora, criado por esse missivista, em 1° de maio de 1997, hoje redefiniu-se e segue no formato de Revista e entrou na internet no ano de 2000. Temos algumas características que nos diferenciam dos outros demais jornais. Atuamos fortemente em cima da política e não temos uma linha noticiosa e informativa. Nossa linha é de textos longos, opinativos e analíticos.

Dia 1° de maio de 1997. Circulava pela primeira vez, em Santiago, a primeira tiragem do Jornal A Hora.

A manchete do primeiro número:

“Santiago: a estética de uma sociedade contraditória”. A seguir, uma longa matéria de minha autoria sobre o deslocamento do eixo campo-cidade que fez emergir um forte proletariado urbano e ocasiona a formação de grandes bolsões de miséria.

Também, nesse primeiro número, publicamos uma longa matéria, intitulada “Excertos para entender o neoliberalismo” e demonstramos com argumentos bastante didáticos o que eram essas propostas e como elas se constituíam.

Nosso primeiro exemplar, teve – entre outros patrocinadores – o então deputado federal Valdeci de Oliveira, PT, hoje deputado estadual.

Foram anos dificeis. O Prefeito de então, Toninho, durante os 4 anos em que esteve na Prefeitura se negou a receber a direção do Jornal e não precisa dizer que, durante 4 anos, nunca recebemos um centavo de publicidade pública. Pelo contário, Toninho processou o Jornal e articulistas. Processar a mim, para variar.

Enfim, os anos se passaram nos separam daquele distante 1° de maio de 1997. De minha parte, como criador do jornal, continuo o mesmo homem, com as mesmas crenças no social e com as mesmas idéias de igualdade, liberdade e fraternidade. Por nunca ter mudado, aceito as companhias que se apresentam em minha vida de bom coração. Quem quer ser meu amigo e não interfere na minha liberdade de escolha e pensamento, é, decididamente, meu amigo. Foi assim que tantas e tantas pessoas se agregaram a nós, comerciantes, políticos, colunistas, autoridades, em suma, ampliamos nosso leque de intervenção e constituímo-nos num veículo cuja trajetória somente o tempo será capaz de julgar.

Nossa aposta nunca foi na quantidade e nem na aparência. Sempre privilegiamos o conteúdo, afinal, depois viram livros às teses que levantamos. Demarcamos um espaço com tolerância, sem disputas fratricidas, e, sempre saudando e incentivando novos veículos, sejam eles da forma que forem.

Os tempos mudam. O tempo passa. O tempo voa.

Por que não sou mais eu quem vivo, mas Montaigne que viverá em mim

Dia 12 de agosto de 2021, com minha filhinha

REVENONS A NOS MOUTONS  Essa máxima francesa tem um equivalente que significa: voltemos a vaca fria. Vaca? Masmoutons não é carneiro?

Vaca ou carneiro, recorri a esse adágio apócrifo francês, do século XV, popularizado através da FARSA DO ADVOGADO PATHELIN, para iniciar minha pequena reflexão desse dia de confinamento.

Pierre Pathelin era um desses “advogados” metidos a malandros, extremamente safado, que adquire de um vendedor uma peça de tecido e depois, para não pagar, finge-se de doente para enganar o mercador.

Depois, logo em seguida, comparece perante o juiz para defender um criado, acusado de um furto.

Marolas e marolas, e acaba absolvendo o criado, eis que transformou-o num verdadeiro idiota.

Na hora de receber seus honorários, o criado absolvido lhe responde assim: bééééééééééééééééé.

Moral: É impossível cobrar honorários de um carneiro. É a idiotice respondendo a tolice.

“Revenons à nos moutons”é a expressão citada por Rebelais, em Pantagruel, e usa-se empregada para ilustrar casos hilários, tipo os leitões que fingem-se de mortos para mamar deitados ou mesmo de saqueadores que negam contas, mesmo que estejam afundando e massacrando pequenos indefesos.

Aqui em Santiago, resguardadas as proporções e a dimensão temporal, essa historiazinha cairia muito bem num segmento local, onde dá de tudo, traficantes, contrabandistas, agiotas, especuladores, mentirosos, gente que está dentro e finge que está fora, gente que mana e finge que não mama, bandidos querendo posar de mocinhos, oportunistas e inescrupulosos bancando às virgens puras. E mais:  onde todos fingem desconhecer a lei, refutam a legalidade e fingem-se até de carneiros para evitar que prevaleça, afinal, a Justiça.

Deixar os porcos mamando deitados é o que todos querem. É nossa versão do conservadorismo digital ou nosso apoliticismo pós-moderno.

Os que dormem para Mecenas são os que tudo permitem aos poderosos e tudo negam os humildes. Essa célebre anedota é lembrada por MONTAIGNE nos Ensaios (livro III, Capítulo IV).

Que fazer contra os vômitos curturais e suas pretensões de controlar corações e mentes? É o que faço, é minha escrita. São reflexões como essa que elles e ellas sabem compreender.Não serei mais eu que vivo, mas Montaigne que viverá em mim. Que sociedade!!! Mas que assim seja. Amém

 

Presidência da República pode decretar Estado de sítio ou Estado de defesa?

Bem, a OAB  emitiu uma nota contra a implantação do Estado de Sítio pelo chefe do poder executivo nacional. O assunto é manchete nos principais jornais do país. Nessas alturas, não é mais segredo.

Eu tinha a informação de que se estudava realmente a implantação do Estado de Defesa, que é uma situação mais branda.

O Estado de Sítio, é a medida mais dura e precisa-se de aprovação do Congresso, por maioria absoluta, o que torna tudo mais fácil. Metade mais um dos membros do Senado e da Câmara. Bem diferente do quorum qualificado de 3/5 das PECs.

(arts. 137 a 139) PRESSUPOSTOS MATERIAIS DO ESTADO DE SÍTIO: Comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia da medida tomada durante o Estado de Defesa. A comoção deve ter repercussão nacional. Comoção com repercussão local, ainda que grave, não deve ensejar Estado de Sítio, mas Estado de Defesa. Declaração de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.

Senão vejamos:

Art. 137 – O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:

I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;

II – declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira.

Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.

Não acredito que o Presidente Bolsonaro chame o Estado de Sítio antes do Estado de Defesa.

Porém, existem graves razões e comoção nacional que justificam – efetivamente – a adoção de um ou de outro. O país vive um caos e existe até uma certa anomia, ante a anarquia de prefeitos e governadores usurpando atribuições e competências da própria presidência da república.

É claro que o Estado de Defesa – nesse contexto – é plenamente justificável, à luz da razão presidencial. Com a questão do CORONAVÍRUS os Estados e até prefeitos passaram a editar decretos típicos de situações como Estado de Sítio e de Defesa.

Entendo que se o executivo realmente endurecer, haverá a implantação do Estado de Defesa, senão vejamos o artigo 136 da CRFB/88.


Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.

§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:

I – restrições aos direitos de:

a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;

b) sigilo de correspondência;

c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;

II – ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.

§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.

§ 3º Na vigência do estado de defesa:

I – a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;

II – a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;

III – a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;

IV – é vedada a incomunicabilidade do preso.

§ 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta. ( No quorum absoluto precisa-se de 257 deputados federais dos 513 e 41 senadores dos 81. É sempre a metade de votos de cada casa, mais um).

§ 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.

§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.

§ 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.

Minha tese é de que antes do Estado de Sítio, na hipótese de convocação, será – sim – do Estado de Defesa.

Estado de Sítio será a última tentativa.

 

É certo que o Brasil vive momentos de profunda angústia e incerteza. De um lado, uma crise sanitária sem precedentes; de outro, uma crise político-ideológico e constitucional, totalmente imprevisível.

Parafraseando a letra da música da Ney Matogrosso, Bolsonaro está num brete: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Os estrategos da ESG sabem que não existe momento mais oportuno que o atual. 

 

Sobre a Bíblia, o que podemos ou não comer

Disse o Senhor a Moisés e a Arão:

“Digam aos israelitas: De todos os animais que vivem na terra, estes são os que vocês poderão comer: Qualquer animal que tem casco fendido e dividido em duas unhas, e que rumina. “Vocês não poderão comer aqueles que só ruminam nem os que só têm o casco fendido. O camelo, embora rumine, não tem casco fendido; considerem-no impuro.

O coelho, embora rumine, não tem casco fendido; é impuro para vocês. A lebre, embora rumine, não tem casco fendido; considerem-na impura. E o porco, embora tenha casco fendido e dividido em duas unhas, não rumina; considerem-no impuro. Vocês não comerão a carne desses animais nem tocarão em seus cadáveres; considerem-nos impuros.

“De todas as criaturas que vivem nas águas do mar e dos rios, vocês poderão comer todas as que possuem barbatanas e escamas.

Mas todas as criaturas que vivem nos mares ou nos rios, que não possuem barbatanas e escamas, quer dentre todas as pequenas criaturas que povoam as águas quer dentre todos os outros animais das águas, serão proibidas para vocês.

Por isso, não poderão comer sua carne e considerarão impuros os seus cadáveres. Tudo o que vive na água e não possui barbatanas e escamas será proibido para vocês.

“Estas são as aves que vocês considerarão impuras, das quais não poderão comer porque são proibidas: a águia, o urubu, a águia-marinha, o milhafre, o falcão, qualquer espécie de corvo, a coruja-de-chifre, a coruja-de-orelha-pequena, a coruja-orelhuda, qualquer espécie de gavião, o mocho, a coruja-pescadora e o corujão, a coruja-branca, a coruja-do-deserto, o abutre, a cegonha, qualquer tipo de garça, a poupa e o morcego.

“Todas as pequenas criaturas que enxameiam, que têm asas, mas que se movem pelo chão serão proibidas para vocês.

Dentre estas, porém, vocês poderão comer aquelas que têm pernas articuladas para saltar no chão. Dessas vocês poderão comer os diversos tipos de gafanhotos. Mas considerarão impuras todas as outras criaturas que enxameiam, que têm asas e que se movem pelo chão. “Por meio deles vocês ficarão impuros; todo aquele que tocar em seus cadáveres estará impuro até à tarde. Todo o que carregar o cadáver de algum deles lavará as suas roupas e estará impuro até à tarde. “Todo animal de casco não dividido em duas unhas ou que não rumina é impuro para vocês; quem tocar qualquer um deles ficará impuro. Todos os animais de quatro pés, que andam sobre a planta dos pés são impuros para vocês; todo o que tocar os seus cadáveres ficará impuro até à tarde.

Quem carregar o cadáver de algum deles lavará suas roupas, e estará impuro até à tarde. São impuros para vocês.

“Dos animais que se movem rente ao chão, estes vocês considerarão impuros: a doninha, o rato, qualquer espécie de lagarto grande, a lagartixa, o lagarto-pintado, o lagarto, o lagarto da areia e o camaleão. De todos os que se movem rente ao chão, esses vocês considerarão impuros. Quem neles tocar depois de mortos estará impuro até à tarde.

E tudo sobre o que um deles cair depois de morto, qualquer que seja o seu uso, ficará impuro, seja objeto feito de madeira, de pano, de couro ou de pano de saco. Deverá ser posto em água e estará impuro até a tarde, e então ficará puro. Se um deles cair dentro de uma vasilha de barro, tudo o que nela houver ficará impuro, e vocês quebrarão a vasilha.

Qualquer alimento sobre o qual cair essa água, ficará impuro, e qualquer bebida que estiver dentro da vasilha, ficará impura.

Tudo aquilo sobre o que o cadáver de um desses animais cair ficará impuro; se for um forno ou um fogão de barro vocês o quebrarão. Estão impuros, e vocês os considerarão como tais.

Mas, se cair numa fonte ou numa cisterna onde se recolhe água, ela permanece pura; mas quem tocar no cadáver ficará impuro. Se um cadáver cair sobre alguma semente a ser plantada, ela permanece pura; mas se foi derramada água sobre a semente, vocês a considerarão impura. “Quando morrer um animal que vocês têm permissão para comer, quem tocar no seu cadáver ficará impuro até à tarde.

Quem comer da carne do animal morto terá que lavar as suas roupas e ficará impuro até à tarde. Quem carregar o cadáver do animal terá que lavar as suas roupas, e ficará impuro até à tarde. “Todo animal que se move rente ao chão lhes será proibido e não poderá ser comido.

Vocês não poderão comer animal algum que se move rente ao chão, quer se arraste sobre o ventre quer ande de quatro ou com o auxílio de muitos pés; eles lhes são proibidos. Não se contaminem com qualquer desses animais. Não se tornem impuros com eles nem deixem que eles os tornem impuros.

Pois eu sou o Senhor Deus de vocês; consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo. Não se tornem impuros com qualquer animal que se move rente ao chão. ( …)

Levítico 11:1-46

De Creontes, Antígonas e Tebas

Cena 1 – Os intelectuais de Santiago e região irão me criticar e ironizarão: mas o povo não sabe quem foi Antígona. Lá vem o Júlio com suas modas.

Cena 2 – Mas eu direi ao povo quem foi Antígona. Não podemos dizer somente o que o povo sabe. O que o povo não sabe também deve ser dito. Outro dia eu contei a um intelectual sobre o desafio de dançar o último tango em Santiago e eu disse-lhe que Bernardo Bertolucci era a ficção e imitava a arte e eu era a própria realidade.

Cena 3 – Sei que quase todos da polis me interpretam mal, não me conhecem, mas odeiam o que eu escrevo. Sou o maldito dos malditos. Não me enquadro e nem me ajusto. Até que diz Cena 1 – Os intelectuais de Santiago e região irão me criticar e ironizarão: mas o povo não sabe quem foi Antígona. Lá vem o Júlio com suas modas.

Cena 2 – Mas eu direi ao povo quem foi Antígona. Não podemos dizer somente o que o povo sabe. O que o povo não sabe também deve ser dito. Outro dia eu contei a um intelectual sobre o desafio de dançar o último tango em Santiago e eu disse-lhe que Bernardo Bertolucci era a ficção e imitava a arte e eu era a própria realidade.

Cena 3 – Sei que quase todos da polis me repelem, não me conhecem, mas odeiam o que eu escrevo. Mas até quem diz que não me lê, me lê. Não me enquadro e nem me ajusto. Não existo para agradar.

História Primeira – Antígona era filha de Édipo, o mesmo que matou o pai e casou com a mãe e tornou-se rei de Tebas.

História Segunda – Sófocles era como eu, escrevia peças, textos. Antígona também é uma peça de teatro e para fins de catalogação sistemática é classificada como teatro grego (tragédia).

História Terceira – Antígona era irmã de ISMÊNIA, ETÉOCLES e POLINICES.

História Quarta – ETÉOCLES e POLINICES morrem lutando às portas de Tebas. Com a morte de ambas, já tendo a desgraça atingido Édipo, Creonte, o filho de Meneceus, assume como Rei de Tebas. Eis que surge o primeiro decreto do novo rei.

O DECRETO DE CREONTE

Eteócles deverá ser sepultado com todas as honras e pompas dedicada aos heróis. Mas seu irmão, POLINICES, ninguém poderá enterrar-lhe o corpo, velhar-lhe ou chorar por ele (ele era como eu). Que fique exposto a ferocidade dos cães e abutres.

CORIFEU, O PUXA SACO – Tua vontade, ó Grande Creonte, será respeitada e que todo o povo de Tebas se torne fiscal da vontade do soberano.

DIÁLOGO DE ANTÍGONA COM ISMÊNIA

Antígona – Procuro teu auxílio para enterrar um morto.

Ismênia – O morto que Tebas renegou. Você tem audácia de enfrentar o edital de Creonte contra a ira do povo?

Antígona – Nenhum dos dois é mais forte que o respeito aos costumes sagrados, como o enterro. Meu irmão também é teu. Poderão me matar, mas não dizer que o traí.

PASSAM-SE AS HORAS

E eis que o guarda entra gritando: – Ninguém sabe o que houve, o chão está liso … o corpo, quando descobrimos a luz primeira, tinha poeira e terra.

CREONTE – Raivoso, me custa acreditar, quem teve a audácia inconcebível; quem foi?

QUEM SÃO OS CREONTES SANTIAGUENSES

Santiago não é Tebas e nem eu sou Sófocles. Mas muitos instalados em micro-poderes, pequenas Tebas, agem como se fossem creontes. O povo não é bobo, sabe onde eles estão e quem são eles.

ARTE E REALIDADE

Quando a arte imita a realidade a tragédia do teatro se volta para o teatro da vida e eis que emergem os creontes cercados de corifeus. Mas em SANTIAGO também existem Ismânias e Antígonas.

Em Santiago crianças passam fome, não existe emprego, as pessoas perderam a dignidade, a descrença nos políticos é generalizada,tudo é algo vago e impreciso e só tolos acreditam nesse discurso falacioso.

CREONTE SANTIAGUENSE

É um rei esperto, não bate, usa um corifeu para bater nos outros e agora inventaram de trazer um corifeu factóide, cujo pai já foi Creonte;

O CORIFEU DA UNIVERSIDADE

Virou um cabide de emprego. Tiraram uma família e botaram outra, o compromisso científico e tecnológico não existe, planejam governar Tebas em conluio.

OS CORIFEUS SINDICALISTAS

Não fazem luta de classe, nunca leram Gramsci ou Luckás, não lutam pelo avanço de uma consciência crítica e revolucionária, apenas usam os aparelhos para se projetarem e serem candidados medíocres nas próximas eleições.

MEDO E TERROR

Há medo generalizado em Tebas, todos se calam, uns por medo, outros por covardia, outros por omissão. E têm aqueles que fingem que cumprem suas obrigações constitucionais e legais enviando pequenos ofícios.

NA MADRUGADA

Descobriram Antígona em Santiago.

Creonte – Mas como, quem ousou me desafiar.

CORIFEU – Vamos lá para o escritório do pai e vamos ver o que faremos para destruir ANTÍGONA. Nós temos como cercá-la e isolá-la até a morte.

CREONTE – Chamem meu motorista e avisem que vou chegar mais tarde em casa.

II PARTE

Antígona não teve medo de desafiar o tirano Creonte, que decretara que o corpo do seu irmão deveria ficar exposto ao relento e devorado pelos abutres.

Nem gesto de coragem, desafiou o tirano e desobedeceu uma lei injusta.

Esse ensaio mescla aspectos da arte da vida e da vida real, numa esperança de alertar a todos para não temerem os creontes e que Antígona pode ser qualquer um de nós.

Sófocles, na arte, reservou lugar para Creonte, Na realidade, resta saber o destino dos Creontes santiaguenses.

Final, Júlio Cesar de Lima Prates chora pela separação de sua filha. Vive os infortúnios de uma paternidade negada e amordaçada. Cassado e perseguido, descobriu que o Ministério quando clamava contra a mordaça é – hoje – quem mais amordaça, saíram da condição de oprimidos para assumirem o papel de opressores. Tudo que Júlio César escreve vira crime nas mãos de uma instituição que quer vingança contra seus escritos. A vida é curta e o tempo que lhe deram para ver sua filha é mais curto ainda, ele espera viver um pouco para ver o destino dos Creontes que querem mandar em tudo e se acham donos de Tebas. Júlio César despediu-se de sua filha. Sabe que uma revolução sangrenta esta a caminho e que o destino do seu destino é o engajamento. A soberba e a arrogância do secretário deixam Júlio César de Lima Prates impressionado.  Ele aprendeu conhecer quem vive de aparência e quem têm essência. Velho e embranquecido, herdeiro de todos os paradigmas, entende o desafio do destino, sabe que viveu a felicidade e sabe o que é amargura.

A vida é curta e um erro traz um outro erro. Desafiado o destino, depois tudo é destino, só há felicidade com sabedoria, mas a sabedoria se aprende no infortúnio. Ao fim da vida os orgulhosos tremem e aprendem também a humildade. Já é tarde, Creonte se oferece em holocausto. Tebas morre com ele. O inimigo avança.

FINAL