Para uma cidade com 150 mil habitantes, se tanto, Balneário Camboriú (SC) aparece no noticiário nacional com frequência demasiado alta.
Ora são os arranha-céus do balneário, eleito como ponto de veraneio dos ricaços de Santa Catarina e do Paraná. Na orla da cidade ficam seis dos dez prédios mais altos do Brasil.
O exagero fálico dos empreiteiros resultou na eliminação do sol na praia central da cidade. Aí Balneário virou notícia porque alargou a faixa de areia, empurrando o mar para além da sombra dos pirocões de concreto. Obra controversa, para dizer o mínimo.
A prefeitura diz que o caldo fecal nada tem a ver com sistema de esgoto ou com a obra de ampliação da praia. Põe a culpa nas chuvas que caem fortes na região.
Difícil engolir essa desculpa. Nuvem não defeca, só transporta o cocô de um lugar para outro. Os coliformes de Balneário estavam dando sopa quando a enxurrada os carregou para o mar.
Balneário Camboriú, com sua mania de querer ser Dubai, é um retrato do modelo de desenvolvimento abraçado pela elite que mandou erguer seus arranha-céus. Uma classe ignorante, predatória e jeca até o último fio de cabelo (aquele que Luciano Hang perdeu há tempos).
A abertura de uma filial do restaurante paulistano Paris 6 ilustra bem esse circo de caipiras ricos.
A comida é atração acessória da casa, cujo hype se deve à frequência de influenciadores, boleiros e subcelebridades. No cardápio, cada prato leva o nome de um famosinho: o penne da Gkay, o fettuccine do Pedro Scooby, o cheesecake da Jade Picon.
O Paris 6 de São Paulo é um zoológico de ex-BBBs que serve, na sobremesa, um picolé atochado num petit gâteau.
Os sócios – entre eles, o papai do menino Neymar – certamente abastecerão a filial de Balneário com convidados egressos de algum reality show.
Jantar no templo da cafonice é programa numa cidade com um monte de gente rica e nada de prestável para se fazer. Nem a praia, imunda e desprovida de luz solar, é opção de lazer no balneário.
Balneário Camboriú tem uma orla que ostenta riqueza e, atrás dela, uma cidade pobre e feia de doer. Mais ou menos como todos os outros balneários do Brasil, só que com prédios bem mais altos.
O modelo de prosperidade implantado em Balneário vale só da porta de casa para dentro. Para que coleta de esgoto? Para que preocupações sociais e ambientais? O que importa é o barco, a Ferrari, o apê de mil metros no 51º andar e sua adega com vinhos de quatro dígitos.
Quem construiu Balneário Camboriú achava que poderia domar a natureza. É a mesma presunção ignorante que quem pensa que pode, impunemente, asfaltar a Amazônia ou transformar Angra dos Reis na Cancún milicana.
A natureza sempre devolve. A chuva e o oceano esfregam excremento no nariz de quem vai ao Paris 6 comer os churros da Vih Tube.