O poeta romano Catulo, numa de suas odes, produziu essa magnífica expressão. Traduzindo, quer dizer: odeio e amo. Aparentemente, há um desacerto e a primeira vista as pessoas, que são movidas por raciocínios mecânicos, não aceitam a possibilidade possível dessa dicotomia. Nossas almas, no entanto, são eivadas dessas contradições, afinal, amamos e odiamos numa mesma dimensão temporal. Contudo, raramente admitimos a coabitação desses sentimentos.
Eu odeio e amo muitas coisas, amo outras tantas e odeio outras. Não prevalece em mim só o amor ou só o ódio, prevalece em mim o misto dicotômico.
E não estou me referindo a amor inter-sexual, que é o suposto amor que une um homem e uma mulher ou duas mulheres e/ou dois homens, embora nessas uniões conjugais também esteja presente os extremos.
O exemplo, a rigor, sintetiza os dramas que habitam nossas almas. Nossas indefinições, incertezas, dúvidas e certezas. Bondade e maldade habitam o mesmo corpo. Pessoalmente, não acredito em pessoas boas, só boas o tempo todo. E nem em pessoas más o tempo todo. Acredito em pessoas que sejam boas e más, dependendo do caso, da situação e das conjunções envolvidas.
E creio que tudo é assim na vida. Acredito no cinismo, no fingimento e na falsidade. Acredito e cultuo o sarcasmo, pois vejo nesse valor um precioso instrumental de argumentação. Não gosto de definições prontas e acabadas. Gosto de tudo que está em vias de construção. Não vejo o conflito com ruim, gosto do caos para dele dar a luz uma estrela cintilante, parafraseio aqui o filósofo alemão niilista.
Existem épocas no ano que aflora um processo de descarga coletiva de consciência e quem nunca foi socialista, experimenta pelo menos nessas épocas, um pouquinho do ser solidário. Pena a solidariedade desencarne logo, assim como a páscoa, dia das mães, dia das crianças, dia dos mortos… tem até o dia das mulheres.
Também amo e odeio. Não poderia ser diferente, sou emoção e uma síntese entre a razão e a incerteza, um caos entre as luzes e as trevas.
Poderia ser diferente?