Gramado, a crise da pandemia e as vacas magras! Por Yamil de Sousa Dutra

Sharing is caring!

*Yamil e Sousa Dutra

Além das trágicas perdas com dezenas de cidadãos mortos e milhares infectados pela Covid-19, Gramado debate-se na pior crise econômica de sua história como município.

Entretanto, tenho acompanhado como, nestes últimos 20 anos, tem sido, mais de uma vez, proposto um novo perfil econômico para a cidade em que haja outras opções de atividades econômicas além do turismo receptivo e a oferta de imóveis.

Nem tão novo, pois o município já teve outro desenho, com pequenas indústrias que iam da transformação da madeira à metalurgia, com uma área muito relevante na área moveleira e outra na produção e processamento de tecidos.

Tudo isso foi sendo substituído por um mono-enfoque na área turística, sem que houvesse incentivos para uma diversificação e modernização de outras fontes de produção e ofertas de serviços, as quais criassem condições de empregos mais diversificados, com melhores salários e que exigissem melhor qualificação e preparação da mão de obra local.

Falta investimento ou a criação de instrumentos que possam atrair pessoas e capital para outras áreas além da imobiliária e a de turismo receptivo e de alojamento. A cidade poderia conjugar sua estrutura hoteleira com uma de oferta de serviços médicos modernos, por exemplo. Incentivar a criação e o posicionamento de produção de alta tecnologia, como produtos e serviços ligados a informação e a comunicação, criar e atrair fundos para apoiar e abrigar jovens empresas de startups, criar condições de ampliar e modernizar a produção agrícola e de alimentos para que a mesma, qualificada pelo nome da cidade pudesse ser exportada para o País todo e, quem sabe, para o exterior, como já aconteceu com os móveis aqui produzidos.

Entretanto, com lideranças ligadas ao turismo receptivo, à hotelaria e à construção imobiliária, e uma falta completa de visão mais complexa e a longo prazo, foi reforçando-se uma mono-economia, totalmente dependente do turismo e, como vemos agora, com um potencial de risco muito agudo.

A área turística e hoteleira foi a mais afetada pela crise, que claramente atingiu outras áreas da economia. Entretanto, com as condições atuais, Gramado, muito mais do que Canela, Caxias do Sul, Bento Gonçalves e outras cidades da região, depende de apenas de uma perna para soerguer-se e empregar seu povo. Isso por ter feito uma opção sem variedade, que parecia fácil, mas que antes da crise já começava a dar sinais de saturação, com um sinal muito claro em dois aspectos: a quantidade de imóveis disponíveis sem aluguel e sem venda e o nível econômico dos turistas atraídos para a cidade, cada vez mais baixo, afetando, inclusive a qualificação do comércio. Em outras palavras, as tetas de nossa vaquinha já vinham dando leite fraco e esta crise cortou-lhe o pasto que já andava seco.

*Jurista/Procurador.

Comentar no Facebook