A doce morte do meu tio Romeu

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Hoje, pela manhã, após um trabalho jurídico, onde estive com a nossa Presidenta da OAB, Dra. Marivone, adaptando-me à vida rurícula, fui até o mercado Damian fazer algumas compras. Lá, entrei meu primo, Luiz Lima, oficial do exército, e filho do meu tio Romeu Soares de Lima, irmão de minha mãe.

Surpresa: meu tio falecera. Não atingiu os 100 anos.

Eventualmente, visitava meu tio, que aos 90 anos ainda atirava de espingarda e nadava, fatos quase inacreditáveis. Tive a sorte de ainda tirar algumas fotos dele com a Nina.

Contou meu primo, que é oficial no 9º B.Log, que sentaram para conversar. Romeu, meu tio, tomou um mate e disse ao filho que iria deitar-se. E ficaram trocando as últimas conversas.

Nisso, Luiz nota que seu pai adormeceu sentado. Inclinou a cabeça para o lado esquerdo e adormeceu. Luiz pensou então em levá-lo para a cama. Mas notou que ele houvera partido. Morreu são, calmo, manso, sereno, e ao lado do único filho que teve na vida. Estava prestes a completar 100 anos.

Esse meu tio era uma pessoa fabulosa. Contava histórias, todos contam que era um exímio nadador e trabalhava cuidando de flores na praça, limpando … e fazia experiências cruzando as sementes. Certa vez, em Florida, mostrou-me uma rosa que ele manipulou as sementes e conseguiu uma flor metade branca e outra metade vermelho/rosa.

A história de minha família é muito interessante. Minha avó separou-se do meu avô. Até hoje não entendi como meu avô, brasileiro, era servidor público da Argentina. Era recenseador, trabalhava com estatísticas. Minha avó tinha ficado no Alto Uruguai. Separados, decide voltar para o Rincão dos Soares, com minha mãe, então com 16 anos, o Tio Romeu, esse que faleceu e o Tio Garibaldi, que se instalou na colônia judaica de Phillipson, a primeira comunidade judaica no interior do Rio Grande do Sul e que dá origem a Jewish Colonization Association. Certa vez fui com a Eliziane para ela conhecer o cemitério judaico Chácara das Flores/Phillipson, em Itaara. Era mais conhecido como “castelhano”, porque quando veio ao Brasil só falava espanhol. Até hoje não entendi bem a real da história. Os 3 irmãos se separaram para sempre.

Minha mãe não quis ver minha avó, nunca mais. Ficou traumatizada pois veio embora apenas com o pai (meu avô) e seus dois irmãos, que cada um tomou um rumo. Meu avô, de volta ao Rincão dos Soares voltou-se ao ofício de carpinteiro e era famoso por trabalhar a noite.

Escrevendo sobre a família Soares no blog, acabo descobrindo que minha avó teve outros dois filhos homens e duas mulheres. Uma, mora na Argentina, tem 90 anos e a outra mora em Frederico Whestepalen, tem 88 anos.

Eles têm contato comigo. Descobri uma legião de primos e primas que sequer sabia que existiam. São pessoas dóceis, amáveis, pedem muito que eu vá ou volte ao Alto Uruguai.

A filha da filha da minha prima, que mora em Curitiba, é youtuber. Adorei os vídeos dela em visita ao Alto Uruguai. Têm nove anos, a mesma idade da Nina e uma desenvoltura fantástica.

Meu blog, sem querer, serviu de elo para unir uma família. Essa história tem vieses, muitos vieses. Os Soares não eram gaúchos, eram paulistanos, bandeirantes. Os Lima, são judeus marranos. Conheci – aos dez anos – uma irmã de minha mãe. Uma mulher linda, loira, alta, olhos verdes, até hoje não sei quem é ela e nem onde está enterrada, se é que é morta.

Com a morte do meu tio Romeu Soares de Lima, aqui em Santiago, a história de uma família, marcada pela tragédia, desencontros, e, finalmente, unida on line.

Quem diz que conhece minha família, não conhece nada. Apenas fazem narrativas em cima do óbvio. Quem está conhecendo tudo, quase tudo, sou eu.

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