Essa noite a chuva foi grande. Muito grande. Muito ruido, turbōnis, ventania, objetos voando.
Sob o efeito draconiano da metformina, revolta no estômago, mal-estar, acordo de sobressalto.
Não sei o que houve. Alguém batia na minha porta. Estranhei. Como alguém em meio aquele temporal todo poderia estar batendo na minha porta?
Entre a certeza e a incerteza, o sonho e a fantasia, sem saber mais o que é o sonho e o que é realidade, imagino que me levantei. Olhei pelo vidro e ante a claridade dos raios, enxergo minha filhinha.
Como eu sei que não era ela, volto a dormir. Deito-me e fico pensando. Será que tudo foi um sonho?
Sim – só pode ser um sonho.
Mas foi um sonho tão real. Tão sério e tão afetivo.
Sei que é a saudade e a falta. Sei que é o amor ausente.
Amor, quando é verdadeiro, faz a gente delirar, empreender viagens fictas e mergulhar no mundo espiritual dos sonhos.
Foi bom, pelo menos, um consolo.
A realidade é cruel demais.
A fuga, mesmo que em sonho, é um alívio.