Existe uma multiproliferação de casos de furtos a mercados em Santiago. É uma situação emblemática, mas que merece análise da sociedade.
O crescimento exponencial desses casos tem múltiplas facetas.
Primeiro, é evidente o atoleiro na miserabilidade. Segundo, é o afloramento da desordem e a ruptura com os padrões morais de civilidade. É claro, que o segundo é consequência do primeiro, mas nem por isso deve ser subestimado.
Quando fui pesquisar as consequências sociais do Mercosul, com a desagregação das cadeias produtivas locais frente ao impacto da abertura desenfreada do comércio, emergiram aspectos como a forçada urbanização com suas reivindicações imediatas e as consequências dessa urbanização acelarada e rápida; aí emergem sempre os primeiros crimes, como a drogadição, prostituição, roubos e furtos …
Hoje, sem os resquícios de tais impactos, mas à luz emergente de uma nova realidade social, política e econômica, os problemas clássicos da miserabilidade social começam a tomar corpo no interior do Estado do Rio Grande do Sul.
Santiago, inserido nesse contexto, apenas retrata o que nos é bem conhecido.
E o que nos é bem conhecido?
O aguçamento da miséria humana, a ausência de sonhos, a castração social, a falta real de perspectivas que assola as famílias, a desagregação no tecido social que afunda a própria sociedade, reflete-se no aguçamento dos conhecidos problemas urbanos; e o furto – a rigor – nada mais é que um dos múltiplos impasses em que as sociedades estão mergulhadas. Nada é diferente com a drogadição, prostituição e essa assombrosa teia de pequenos crimes que impactam o aparato repressivo do Estado.
O Estado, que – a rigor – deveria ser o gestor da sociedade, é cada vez mais potentoso e armado, equipado e orientado a reprimir a própria sociedade, gerando – em si – uma contradição insanável.
As consequências sociais de um modelo econômico perverso e concentrador de rendas – cada vez mais – nas mãos de poucos, vão continuar continuar emergindo.
A sociedade se debate. Ou ataca as consequências sociais ou segue nesse ritimo insano, apostando sempre na exclusão e avessa ao caos social.
É nessa encruzilhada que o Brasil se encontra. E nosso Estado e nossa região reflete o somatório dessas adversidades.
É claro que a próxima eleição presidencial será o desaguadouro natural dessa inquietação social derivada da economia do país.
A abordagem aqui é apenas uma pontinha do iceberg, quando as tragédias com as chuvas no nordeste, sintetizam, de forma mais explícita, o caos da urbanização desenfreada e sem controles.
Contudo, em todos os casos, é latente a ausência do Estado, com a negação de políticas sociais e com a exposição explícita das vísceras do nosso empobrecimento e ampliação massiva da miséria.
Os governos no Brasil se preocupam mais com a ampliação do Estado repressor do que com o Estado de bem estar social.
Patético nesse contexto, o descontrole de generais que defendem o fim do SUS gratuito e universal, enquanto os militares seguem com seus hospitais próprios, com FUSEX e tudo mais pago pela sociedade.
O momento é delicadíssimo em nosso país, pois a evidência da miséria expõe cada vez mais à cegueira social, econômica e política que campeia solta em todos os cantos desse vasto território sem planejamento e sempre propício ao caos.
Quem venham às cenas dos próximos capítulos.