Verdades sufocadas

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Santiago não pode ser uma cidade educadora e viver sem o resgaste do seu passado. Em Santiago houve ditadura, mais do que em outros municípios brasileiros. Aqui, pessoas foram presas, tiveram suas vidas enxovalhadas, desceram presos a Duque de Caxias em direção a Artilharia numa sublime humilhação pública. Em Santiago funcionou um sistema de repressão virulento; em Santiago houve muita tortura e famílias inteiras amargaram o cruel e o violento desprezo e preconceito. Afora os quartéis, na própria polícia civil havia um aparato de repressão.
Eu mesmo, se forem vasculhar meus registros, encontrarão que no ano de 1979 fui chamado na DP para dar esclarecimentos sobre um manifesto contra a ditadura militar distribuído dentro de ônibus de passageiros urbano.

Hoje, em nosso País, a comissão da Verdade busca produzir um passado sem falsificações; e mais: os agentes da repressão estão sendo identificados, assim como os políticos da ARENA que deram sustentação aos abusos, perseguições, torturas e violações de direitos humanos de um modo em geral.

Ademais, diversos países da América Latina seguem no caminho de recomposição da Verdade perante a História.

Em nossa cidade, as elites e a imprensa servil, tratam a história como se em nosso meio não tivesse ocorrido brutais perseguições. E o que é pior: famílias que foram vítimas, que tiveram seus membros perseguidos, ainda hoje são estigmatizadas, como se as vítimas não fossem eles próprios e os algozes certas figuras carimbadas que continuam dando as cartas em nosso meio, ditando regras, controlando a política e dizendo quem pode e quem não pode ocupar certos espaços sociais.

Inverteram-se todos os papeis e nesse sentido a situação de Santiago é bem singular.

Urge, portanto, que se abra um debate no seio da sociedade santiaguense, que se recomponha a Verdade e que se aponte – com nomes – os responsáveis pelas prisões e os agentes políticos que davam sustentação à ditadura e viviam bajulando os militares aliados aos abusos, perseguições e vilipêndios.

Por mais incrível que possa parecer, não existe uma historiografia local que cite (cite, vejam bem) os nomes das pessoas que foram presas, heróis da resistência, pessoas que foram perseguidas, expulsas dos quartéis, dos órgãos públicos, professores que foram sumariamente mandados embora dos quadros do Estado. Até hoje ninguém sabe ao certo quem foram os professores perseguidos, nem os nomes completos dos militares expulsos dos quartéis.

Aqui, a ditadura ainda é elogiada e os torturadores permanecessem impunes. E não são poucos os mãos-sujas de sangue no âmbito local.

A oposição local, por ser medíocre e por estar preocupada apenas em brigar entre si, não tem preocupação com o resgaste histórico da Verdade das violação dos direitos humanos em Santiago. Mas estava na hora de começarmos uma reflexão – ao menos isso.

Precisamos reescrever nossa História, doa em quem doer. Do contrário, jamais seremos uma cidade educadora, seremos sempre um lixo histórico, escamoteando e mantendo a Verdade sufocada, a verdade do sangue vertido de inocentes, das perseguições, das famílias destruídas, cujo o único delito foi justamente o delito de opinião, pois as perseguições foram movidas apenas pelo desrespeito às diferenças de pensamento no nosso meio social.

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