Um povo sem história é um povo sem memória

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A produção teórica local, até hoje, não conseguiu sistematizar, mininamente, as razões da ampla hegemonia de um só grupo político no espectro partidário local. A condição de micro-pólo regional de nossa cidade, inclusive sediando um COREDE e uma universidade regional, não evoluiu do ponto-de-vista teórico e continuamos todos capengas. Não existem reconstruções político-partidárias, análises acerca do desenvolvimento das forças produtivas locais, e nem análise histórica sistematizada de nada, nem do moinho santiaguense (gênese da tritícola), nem do nosso hospital e sua princesa alemã, Irmã Guda, nem dos grandes períodos socioeconômicos, por exemplo, anteriores a revolução de 30, estado novo, período liberal/democrático de 46/64, ditadura, abertura, diretas…nada. Absolutamente nada.

Isso é preocupante demais, especialmente para uma cidade educadora.

Analisar os fatos históricos não é empreender relatos crus com nomes, datas e resultados. Para tal, basta uma leitura nos obituários. Analisar – criticamente – a história é explicar os porquês da união de determinadas forças políticas em sintonia com uma atividade econômica dominante. Nesse contexto, é imprescindível compreender porque os fazendeiros, ligados a pecuária, se agrupavam em torno da cooperativa rural e – majoriatariamente – da ARENA 1. O mesmo raciocínio valeria, a rigor, para as forças da agricultura, agrupadas dentro da cooperativa tritícola e da ARENA 2. Se não existe leitura oficial e nem uma historiografia local, que não seja oral, afeta aos principais elementos do nosso breve processo histórico de dominação, pior ainda é o espectro das forças dominadas, cuja história, além de não existir, é contada pelos dominantes.

Falta, inclusive, uma análise atual acerca dos grandes points ideológicos que emergiram recentemente, da URI ao HCS, que atualmente fazem o papel que – no passado – foi reservado às cooperativas rural e tritícola. Urge, da mesma forma, um debate sobre o Sindicato Rural patronal e sua influência no grupo hegemônico local. Por outro lado, o mesmo raciocínio vale para o Sindicato dos Trabalhadores rurais, o Sindicato dos Servidores Públicos, assim como esses sindicatos ligados as atividades privadas, onde vale destacar o dos comerciários, metalúrgicos e construção civil, dentre outros.

E aí me questiono: por que é que as universidades locais não se interessam pela sistematização da história local? Por que é que não gravam horas e horas dos relatos dos tradicionalistas da narração oral? O que será de nós, daqui a 50 ou 100 anos, quando quisermos buscar referências históricas de nós mesmos?

Não podemos ignorar que existe uma tendência mundial de desglobalização pari passu com a volta ao localismo, que é exatamente a narrativa dos valores locais. Jaguari, por exemplo, dá um show em Santiago com os livros de José Newton Marchiori e Otto Gambert.

Outro dia, escrevendo sobre Santiago, nas longas anotações que faço, possivelmente para serem usadas um dia, depois de minha morte, ocorreu-me de registrar sobre uma guerra das rádios na eleição de 1972; em oposição a Rádio Santiago, que era de Rubem Lang (depois, vendeu-a a Jaime Pinto) a ARENA criou a Rádio Itu AM, que funcionava na clandestinidade para opor-se a Santiago, que era controlada pelo MDB.

O que quero dizer com isso, colegas de imprensa, blogueiros, políticos, educadores,… é que tudo isso está se perdendo. E se não registrarmos agora, será um caos no futuro. Seremos um povo sem história, com um passado louco, sem registros.

O que temos anotado sobre as primeiras indústrias de Santiago? Nada, nunca vi nada, exceto o que eu próprio escrevi. E já tivemos uma grande fábrica de sabonetes e derivados em 1922, da família Piva. Então, onde está o resgate dessa memória histórica?

Estamos preocupados em ganhar e lucrar, somos estúpidos, nossa mentalidade é bovina, somos avessos à cultura,  cultuamos a idiotice coletiva, insuflada por nossa mania egocêntrica de nos acharmos melhor que os outros porque temos meia dúzia de despreendidos que empilham palavras e fazem versos. Que culturaé essa se não temos nem um processo de resgate histórico da memória municipal?

A máxima, que caracteriza os anais históricos do povo judeu precisa ser repetida em Santiago, por isso o título.

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