Por que não sou mais eu quem vivo, mas Montaigne que viverá em mim

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Dia 12 de agosto de 2021, com minha filhinha

REVENONS A NOS MOUTONS  Essa máxima francesa tem um equivalente que significa: voltemos a vaca fria. Vaca? Masmoutons não é carneiro?

Vaca ou carneiro, recorri a esse adágio apócrifo francês, do século XV, popularizado através da FARSA DO ADVOGADO PATHELIN, para iniciar minha pequena reflexão desse dia de confinamento.

Pierre Pathelin era um desses “advogados” metidos a malandros, extremamente safado, que adquire de um vendedor uma peça de tecido e depois, para não pagar, finge-se de doente para enganar o mercador.

Depois, logo em seguida, comparece perante o juiz para defender um criado, acusado de um furto.

Marolas e marolas, e acaba absolvendo o criado, eis que transformou-o num verdadeiro idiota.

Na hora de receber seus honorários, o criado absolvido lhe responde assim: bééééééééééééééééé.

Moral: É impossível cobrar honorários de um carneiro. É a idiotice respondendo a tolice.

“Revenons à nos moutons”é a expressão citada por Rebelais, em Pantagruel, e usa-se empregada para ilustrar casos hilários, tipo os leitões que fingem-se de mortos para mamar deitados ou mesmo de saqueadores que negam contas, mesmo que estejam afundando e massacrando pequenos indefesos.

Aqui em Santiago, resguardadas as proporções e a dimensão temporal, essa historiazinha cairia muito bem num segmento local, onde dá de tudo, traficantes, contrabandistas, agiotas, especuladores, mentirosos, gente que está dentro e finge que está fora, gente que mana e finge que não mama, bandidos querendo posar de mocinhos, oportunistas e inescrupulosos bancando às virgens puras. E mais:  onde todos fingem desconhecer a lei, refutam a legalidade e fingem-se até de carneiros para evitar que prevaleça, afinal, a Justiça.

Deixar os porcos mamando deitados é o que todos querem. É nossa versão do conservadorismo digital ou nosso apoliticismo pós-moderno.

Os que dormem para Mecenas são os que tudo permitem aos poderosos e tudo negam os humildes. Essa célebre anedota é lembrada por MONTAIGNE nos Ensaios (livro III, Capítulo IV).

Que fazer contra os vômitos curturais e suas pretensões de controlar corações e mentes? É o que faço, é minha escrita. São reflexões como essa que elles e ellas sabem compreender.Não serei mais eu que vivo, mas Montaigne que viverá em mim. Que sociedade!!! Mas que assim seja. Amém

 

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