Eu caçei dragões e matei monstros, nas historietas para minha filhinha

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A vida sozinha, na minha casa, em Santiago, permite sempre meu reencontro comigo mesmo. Adaptei-me por aqui, gosto do lugar, das pessoas, da vida simples que eu levo, do meu espaço interno, do tempo, do pensamento e das reflexões. Sempre fui um ser caseiro, absolutamente caseiro. Nunca nada me atraiu na vida material. Até o meu amor é fundamentalmente espiritual.

Nesse momento da vida, nada paga a minha paz, a serenidade e a tranquilidade.

Ademais, gosto das pessoas ao meu redor, são pessoas boas, desprovidas de maldades, solidárias e bondosas. As maldosas, não me alcançam.

Um dia tentei dizer que procurava um lugar para descansar meu corpo e minha alma. Por alguma razão mística, inexplicável aos olhos da ciência, a gente sabe quando começa a partir. Partes da gente começam ir antes da gente. Vão-se os pedaços. Eu noto isso claramente.

Hoje, deitei na minha cama, estirei meu corpo e dormi o mais mágico sonho. Não senti a presença de monstros e nem de cobras voadoras. Apenas dormi, sem intervalos de acordes. Foi um longo e reparador sono, quisera que fosse o último e eterno. Estou alimentado espiritualmente, a amor de minha filha é compreensivo e mágico. 

Se dependesse de mim, nunca mais sairia daqui. Tem muito vento e uma energia muito positiva. Os maus fluído não ficam, os ventos uivantes carregam tudo.

Vivo a paz dos cemitérios, especialmente noturna. 

Com sorriso, quero dormir. Sentir a intensidade de Deus e curtir os últimos fragmentos de energia de minha,  que ainda fluem pelos cantos da casa.

O futuro ainda não é. O devenir e o vir-a-ser são grandes mistérios. Poderia ser cálido?

Eu fui revolucionário quando jovem e – curiosamente – apesar de ter ficado velho, a chama revolucionária é tão latente e pulsante como se eu tivesse 18 anos. Lembrei-me do exército, por ser  canhoto, ganhava todos os concursos de tiros. Afora ser comunista e exímio atirador, tinham medo de mim. Mas eu não mato moscas e nem baratas. Prefiro matar dragões. Quando eu os matava, preferia estourar as cabeças dos dragões e creio que não mudei de ideia. 

Assim eram os contos que povoavam a cabeça de minha filhinha. Sempre contei a ela que fui caçador de dragões. Ela sempre entendeu que eram historietas.

Agora, vou ter que voltar a matar dragões, pois eles estão povoando meus sonhos e estou sendo paciente, esperando a hora certa.

Os dragões e os monstros sabem quem são e não fogem de si próprios e nem eu os perco de vista. Sempre gostei da fantasia e sempre evitei me afogar na realidade. 

 

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