Pai velho, filha criança, anatomia de uma vida harmônica

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Nina, na noite de hoje….

Se eu pudesse deixar uma lembrança, em especial aos homens, é que sejam pais na fase bem adulta, lá pelos 50.

Explico-me.

Um homem mais velho sabe como lidar com uma filha mulher. As pessoas e os juízos morais pensam exatamente o contrário e falam tanto em choque de gerações. Minha experiência é exatamente inversa. Eu sou um velho. Minha filha tem 10 anos. É uma relação perfeita, assentada em bases sólidas, em muito carinho, muito afeto e muita interação.

Nem sei de onde brota tanta perfeição, apesar da separação conjugal, o demais sempre foi perfeito. Nina me tem como um dos velhos mestres, não me chama de senhor, me chama pelo nome e sou uma biblioteca ambulante, um google falante que explica para ela a diferença entre maçonaria e iluminatti e aquele calhamaço de perguntas na hora de dormir.

Às vezes, eu tenho a impressão que ela pesquisa os fatos antes, depois me pergunta.

Ele gosta de saber das minhas experiências, da vida no meu tempo de moço. Falamos sobre telefone, máquina de escrever, estudos, religiões, países. Ela me conta das aulas, dos professores, dos coleguinhas, do menino que ela gosta … Conversamos horas e horas.

Homens não são como mulheres que não gostam de dizer a idade. Dias atrás, conversando com uma amiga, de Tupã, notei o malabarismo para perguntar minha idade: “claro, tu é bem mais velho que eu (vou te chamar de tu, de Júlio, pode ser?) … é claro, tu deve ter a idade do meu pai, do meu a.. “!

Os homens mais velhos são mais sensíveis e entendem as pessoas. Mandei uma foto do meu RG e expliquei para ela que tinha 61 anos. Para não perder a linha, claro, ela deve ter ficado chocada, replicou – bem novo. Ao que que eu tripliquei; – muuuiiiitooooo.

A vida é para ser vivida com intensidade, não importa a idade. O amor, o carinho, o afeto, a sensibilidade, a cumplicidade é o tudo o que conta. Meus amigos nunca envelhecem. Estão sempre inventando histórias, vivendo emoções e curtindo a intensidade do momento, como nos legou Fernando Pessoa.

A vida reservou-me momentos muito felizes, na pandemia, na adversidade, com esse quadro de incertezas.

Minha filhotinha é o meu maior amor do mundo. Somos muito felizes, embora pobres, embora nossa vivência seja por temporadas. Mas a telemática nos permite o contato diário e – às vezes – temporadas juntos, no verão ou não inverno, no outono ou na primavera.

Que venha geada todos os dias. As bergamotas ficam mais doces.

As almas, também.

Felicidades a todos meus leitores, leitoras, amigos e amigas.

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